sábado, 15 de novembro de 2008

Uma longa corrida de revezamento

 - Para este brasileiro, tido como nosso mais forte candidato a umNobel, fazer ciência é passar o bastão de geraçaoemgeração, sem esperar a glória final

 - Ciência versus urgência humanitária
- Desafio hoje na luta contra a aids é superar a resignação ante as leis do mercado e buscarumhorizonte moralmais amplo Nobel premia caça a vírus

 - O Prêmio Nobel de Medicina de 2008 vai para o alemão Harald Zur Hausen, que descobriu a relação entre o vírus HPV e o câncer do útero, e para os franceses Françoise Barré-Sinoussie Luc Montagnier, descobridores do HIV, vírus que causa a aids. 

 - Neurocientista da Universidade Duke (EUA) e um dos idealizadores do Instituto Internacional de Neurociências de Natal

ACRISE O INÍCIO EXPERIMENTALISTA–Opesquisador diante do institutoem Natal, sonho que ganha corpo desde 2003: "É só oferecera oportunidade; estatisticamente,otalento científico vai emergir" O NOBEL

Mônica Manir

“Está 0 a 0, sofrida a coisa, mas acho que ainda dá.” Não deu. O Palmeiras ficou no empate sem
golscomoFigueirense, em jogo pelo Brasileirão, que lhe custou perder a liderança para o Grêmio
na quarta-feira. Mas, enquanto o placar não fechava, aqui doHemisfério Sul era possível
sentir que os neurônios de Miguel Nicolelis se contorciam noHemisfério Norte, mais pontualmente em Albany, capital do Estado de Nova York, aonde fora receber um prêmio, que ele pouco quis explicar. 

Não era displicência ao telefone. Nicolelis certamente está habituado amanterumolho virtual no time alviverde e outro real na neurociência. O que interessava a este nosso célebre cientista, no qual o comitê do Nobel de Medicina já botou cobiça, era a vitória incontestável do seu time e a necessidade de propagar a idéia de que a ciência está perto de nós. Bem perto de nós. 

No dia-a-dia, na escola, na cidade de Natal, onde ele e sua equipe de experimentalistas fundaram o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra – instituto que abrange centro depesquisas,umaescolanacapital e outra em Macaíba, a 20 quilômetros de Natal, e mais um“câmpus d océrebro”na região até 2010. O centro já atrai pesquisadores brasileiros cujo intelecto foi cooptado por melhores oportunidades de trabalho lá fora, mas aos poucos enxergam no Brasil a oportunidade de retomar raízes.

Nicolelis foi um que escapou há 20 anos. Estabeleceu-se na Universidade Duke, na Carolina
do Norte, na qual é professor de neurobiologiae engenharia biomédica e co-diretor do
Centro de Neuroengenharia.

Recebe correspondência também na Suíça, onde disse que estaria hoje, domingo. Ali passa
menos tempo do que já passou trabalhandono Instituto do Cérebroeda Menteda Escola Politécnica Federal de Lausanne.

“Cidadão de lugar nenhum”, viaja a rodo para divulgar sua pesquisa, flagrada em tempo real, que observou macacos moverem robôs a distância coma força do pensamento. Ele não nega, porém, que seu foco principal tem sido as crianças falando de big-bang em Natal com a mesma desenvoltura com que ele trata de futebol num bar  em São Paulo. Dianteda crise financeira, assunto em todosos botequins do mundo, Nicolelis lança a seguinte hipótese, a comprovar: “Este certamente é o melhor momento para o Brasil pensar numa política para atrair cientistas, exatamentecomo os EUA fizeram ao longo dos últimos 150 anos”.

O Nobel é referência essencial para medir o avanço em determinados campos científicos?
Eunão diria que seja uma referência para medir o avanço porque o avanço soa como uma
derivada, uma mudança no tempo. O que o Nobel representa, naminhao pinião, é o contrário:
a integral. Integral é uma soma. O Prêmio Nobel mede a integral, a massa crítica de produção
científica de uma sociedade. Evidentemente, não é uma coisa trivial. O Brasil, aliás, já merecia ter ganhado o prêmio há muito tempo. Carlos Chagas é o exemplo clássico, e os prêmios dados à medicina neste ano a pesquisas sobre HIV e HPV – muito justamente, diga-se de passagem – justificam plenamente a tese de que ele deveria ter recebido um. Carlos Chagas descobriu
não só a etiologia e o parasita, masdescreveu toda a sintomatologia deuma doença que afeta
milhões de pessoas na América do Sul e na África. Isso é outra coisa interessante: a gente 
sempre fala das pessoas que ganharam, mas evidentemente o trabalho delas está focado
no trabalho de muitos outros pesquisadores do mesmo laboratório ou de outros pelo mundo
afora que contribuíram paraadescoberta, mas não aparecem.  Aciência, todos nós sabemos,
não é feita só por uma ou duas pessoas. É uma longa corrida de revezamento. Ela vai
passando o bastão de geração em geração, e geralmente quem está no meio da corrida
não tem a oportunidade de ver o final.

Mas isso não tira a motivação das pessoas que participam da prova. Essa corrida tem um final?
Do ponto de vista filosófico, na realidadenãotem,porqueestamos tentando explicar questões
muito profundas, muito complexas. Dificilmente vamos chegar de uma maneira rápida
a essas explicações. Eporque oBrasil aindanãoconseguiuganharoprêmio? O problema do Brasil não é a falta de exemplos pontuais de pessoas que mereceriam ganhar em várias áreas, de física
de partículas a medicina. A questão é que o País teve e ainda tem muita dificuldade em estabelecer grandes árvores genealógicas científicas, que sejam perpetuadas ao longo dos anos. Temos exércitos de pessoas brilhantes, mas não um arcabouço que permita que essa massa crítica se expanda. Isso é uma tradição. O Brasil não é apenas jovem. É um país que muito recentemente descobriu os benefícios da estabilidade política e econômica e há pouco começou a desenvolverumavisão estratégica de produção de ciência. É quase cruel exigir que  o cientistas brasileiros consigam receberumahonraria desse porte. Seria o mesmo que pedir, hoje, que a seleção de hóquei de grama do Brasil ganhe o campeonato mundial.

O que seria essa visão estratégica de ciência?
O Brasil agora está reforçando suas instituições para investir maciçamente em treinamento
de cientistas. Mas o que ele precisa, na minha opinião, é investir desde a primeira infância na
disseminação dos conceitos científicos e oferecer oportunidades para os 50 milhões de crianças que freqüentam a escola pública. Você não precisa forçar a coisa, não precisa fazer nada especial, a não ser ofereceraoportunidade. Estatisticamente, o talento científico vai emergir. É a proposta do instituto de neurociênciasdeNatal? Exatamente. Nossa filosofia não é caçar talentos nem quantificar gênios. Nossa filosofia é elevar a qualidade do ensino científico de tal sorte que as crianças tenham a chance de exercer seu potencial intelectual. Seisso acontecer, naturalmente vai haver físicos, químicos, biólogos, médicos, engenheiros, agrônomos.Vamos elevar amédia. Elevando amédia, vamos achar naturalmente os talentos.

É possível fazer isso fora do eixo Rio–SãoPaulo?
Natal é um experimento, e eu souumexperimentalista.Acreditoemdadosemepropus, com meus colegas, a realizar o instituto. A resposta poderia ter sido sim ou não. E a hipótese, até que provem o contrário, por todos os critérios quantitativos possíveis, está sendo demonstrada.
Você consegue fazer ciência de alto nível, consegue disseminar essa ciência, publicar em revistas internacionais e, aomesmotempo, usar a ciênciacomo grande ferramenta de transformação social do entorno desses centros, seja em projetos educacionais, sejaemprojetos de assistência médica. É muito mais difícil do que em São Paulo, muito mais difícil do que no Rio de Janeiro, e talvez seja por isso que ninguém de SãoPauloedoRio tentoufazer.

O Instituto InternacionaldeNeurociências pode ser um cais para os cientistas brasileiros que saíram embuscademelhoresoportunidadesequeremvoltar?
Já é.Temospelomenostrêspessoas que trabalhavam fora do Brasil e estão lá. Recentemente
houve umconcurso público para vagas no departamento de neurociência criado na Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Pela primeira vez, a UFRNatraiu candidatos brasileiros que decidiram voltar do exterior para serem professores em Natal. Essa hipótese está sendo demonstrada. 

Na década de 90, perdemos 5% das cabeças doutoradas do país, uma média de 140 por ano. O senhoréexemplodessafugadecérebrosdoBrasil. Acrise na economia mundial está invertendo essa rota? Quero dizer: os cientistas já estão sevendo obrigados avoltar?
Tem sido uma dificuldade muito grande nos EUA tirar visto de cientista, mesmo para estudantes
europeus, mas certamente ninguém aqui vai mandar cientista embora. Não existe amenor chance de isso acontecer. Só que este certamente é o melhor momento para o Brasil pensar numa política para atrair cientistas, exatamente como os EUA fizeram ao longo dos  últimos 150 anos. A gente vê o presdente do Banco Mundial, um cara totalmente ligado ao Partido Republicano, negociador do Departamento de Estadodo governo americano, dizer publicamente que o G7 tem de ser ampliado para incluir países como o Brasil. É algo que nunca imaginei ouvir na vida. A imagem que o Brasil tem fora do Brasil é muito melhor e muito mais otimista que a imagem que temos do Brasil dentro do Brasil. Fala-se nosEUAdo etanol brasileiro, das novas reservas de petróleo, da produção de alimentos e da expectativa de que finalmente o País tenha encontrado o caminho para construir aquele país do futuro cujo futuro nunca chegava. A impressão que se tem nos EUA é que o futuro do Brasil chegou e estão todos bem atentos a ele. Existe todo esse otimismo quanto à ciênciabrasileira também? Não. A ciência  brasileira em geral não tem espaço aqui. Talvez seja esperar demais numa estrutura científica tão gigantesca como a americana. É muito difícil competir pela atenção da mídia e da sociedade científica comumpaís que tem produção científica como a dos EUA.

Os Estados Unidos, então, continuam no topo nesse sentido? 
Sim, sem dúvida, só que essa é umacrise ímpar aqui.Doponto de vista científico, nunca vi nada igual nestes 20 anos de EUA. É a repercussão de uma crise nofinanciamento científico que vinha acontecendo desde a metade do primeiro mandat o do Bush. Os níveis de investimento caíram bruscamente. E já existiaaprópria crise no número de jovens americanos que procuram uma carreira em ciência. Publicar é palavra-chave no mundo acadêmico. No entanto, o senhor demonstrou os resultados de sua experiência feita em janeiro, comum macaco controlando a distância umbraço robótico por meio de eletrodos conectados ao cérebro, antes de eles serem publicados numa revista como a ‘Nature’.  

Isso compromete o avalda comunidade científica?
Todo paradigma existe para ser quebrado. Aliás, toda minha carreira científica demonstrou
que nunca estive muito preocupado em seguir normas. Esse experimento está sendo revisado,
o trabalho está para ser aceito a qualquer momento. O que aconteceu é que, quando o New York Times viu minha aula em um pôster no congresso americano de neurociência e achou aquilo realmente fora do típico, quis fazer uma reportagem. Como demoramuito para o resultado ser publicado, quaseumanoetanto, acheique não tinha problema nenhum correr o experimento em tempo real. Depois de todos esses anos, todo mundo me conhece, todo mundo sabe que, quando eu mostro alguma coisa, estou mostrando alguma coisa embasada em algo sério. Então não tive preocupação e achei até umaexperiência muito interessante.  Fizemos uma demonstração ao vivo com os repórteres do NYT no Japão e aqui, e eles puderam participar do experimento. Para eles foi muito bom e para nós foi ótimo, porque mostramosque vocêpodefazer esse tipo de ciência sem problema nenhum, emtempo real, na frenteda imprensa. Uma semana depois, eu estava em Davos no Fórum Econômico e fizemos outra demonstração ao vivo durante minha palestra usando três câmeras: uma na Suíça, uma no Japão e uma na Duke. Foi umbaita de um sucesso.  Podia ter sido um fracasso também. Tudo podia dar errado. O macaco podia desistir de andar, o algoritmo poderia não funcionar, mas é isso que faza vida interessante, não é? É você, de vez em quando, arriscar. E foi um belo risco.O coordenador do simpósio disse que nunca tinha visto nada igual. Quando os caras pousaram na Lua, a gente pousou junto. Não tinha muito jeito de esconder se o Neil Armstrong tropeçasse. E os caras fizeram. Acho que parte da mensagem nessa nossa experiência foi criar a tradição de que nós, brasileiros, também podemos pousar na Lua, também podemos ousar e demonstrar que somos capazes de fazer coisas nesse grau de complexidade sem muito receio de falhar. Falhar faz parte do jogo. 

Mas certos fracassos podem comprometer o bem-estar dos envolvidas na pesquisa. Quando se sabe a hora de fazer a primeira experiênciaclínica?
Depende.  Lembro o caso de umaempresaquealegouterfeito implantes em três pacientes 
usando um eletrodo que todos nósconhecemoscomodeficiente. Alegaram que em dois pacientes
o eletrodo não funcionou, e naquele em que funcionou por alguns meses o grau de controle que conseguiram era duvidoso. Na verdade, não precisava ter sido feito um implante porque obteriamos mesmo resultado com sinais do couro cabeludo. Ou seja, o paciente não ganhou absolutamente nada comisso e a ciência por trás era medíocre. Essa pesquisa causou no primeiro momento uma sensação tão grande nos EUA que várias empresas quiseram capitalizar rapidamente em cima. Sempre deixei claro que não era hora nem de pensar em comercializar nada nem de tentar realizar estudos clínicos nessa magnitude. Então, como a gente sabe a hora? Quando temos uma quantidade de informações em estudos com animais que claramente mostram que a nova abordagem pode ter umbenefício considerável para o paciente, não vai criar nenhum outro tipo de dano a ele e definitivamentecontribuirápara que um grupo muito  grande  de pessoas que tem doença semelhante se beneficie. Esses critérios não foram seguidos naquele  estudo. O trabalho estava na capa da Naturee todo mundo agora diz que foi um belo fracasso,  que a revista comprou um troço malfeito, inacabado, uma tecnologia que não tinha perspectiva  de ir para frente, era  financiada e feita por uma empresa pequena que precisava desesperadamente de dinheiro para continuar. Ou seja, a Nature foi usada como propaganda de graça. Eessa companhia faliu, desapareceu do mapa, abandonou essa linha de pesquisa, demonstrando que as pessoas que disseram que não estava na hora, que era prematuro, tinham certo grau de razão.

No futuro as pessoas terão chips implantados no corpo para curar doenças? Essa tecnologia será acessível?
Se você, por exemplo, acompanhar a história dos implantes cardíacos, verá que eles inicialmente
eram caríssimos e exigiam cirurgia com certo risco, abertura de esterno. Hoje existem milhões de pessoas se beneficiando e deixou de ser alarmante dizer: “Meu tio ou meu avô vai implantar um marcapasso”. A tecnologia evoluiu tremendamente, há chips muito menores, que podem ser depositados no tecido de uma maneira bem menos invasiva e com as pessoas adquirindo uma longevidade maior graças a isso. Acredito que o mesmo percurso va ser percorrido na questão do cérebro. Vai demorar um pouco mais, mas há surpresas que estão chegando por aí. Vai serum choque.

Que surpresas?
Surpresas na área de cérebro, estudosque aindanão posso revelar. MasofatoéquehánoBrasil
um grande receio quanto à ciência. Ela é vista como misteriosa, perigosa. Existem até títulos de livros novos dizendo: Ciência, Use com Cuidado. Não quero ofender ninguém,mas às vezes as pessoas confundem ciência com ficção científica, mundos muito separados.

Esse tipo de confusãoexplicariacerto pânico quanto aos efeitos do LHC, o aceleradordepartículas?
Eu estava na Suíça naquela semana quandoumcientista foi à TVefalousobreoacelerador.É
umacoisa fenomenal,umgrande feito da humanidade do ponto de vista da engenharia, da
ciência básica. Mas teveumcara que entroucomumprocesso dizendoque havia a chance matemática  de o acelerador criar um buraco negro na Suíça, um buraco que ia engolir a Terra.
Pelo pouco que conheço de física e pelas conversas que tenho com amigos profissionais da
área,essesmedossãoridículos. Oproblemaéeste:a ciêncianão faz parte de nossas vidas, apesar de sermos todos nós cientistas. Sem saber, realizamos experimentos e estamos cercados de produtos  científicos. Mas, como nossa formação na média é muito pobre, as pessoas não podem tomar decisões objetivas. Isso não quer dizer que você remova suas paixões, seus sentimentos. Não é isso. A formação permite que você julgue coisas como o acelerador de uma maneira mais direta. Essa tradição nós não temos. É um dos grandes fatores que nos impedemde
criarumamassa crítica científica capaz de atingir os grandes everests da ciência mundial. E acho que isso é muito importante para o País, que vai ter de tomar decisões sobre suas riquezas naturais, sua biodiversidade. São decisões que precisam ser tomadas pela sociedade, e não pela Academia Brasileira de Ciências ou pelo Congresso Nacional.

O Nobel de Física deste ano premiou estudos sobre partículas elementares.  Existe um frenesi da ciência para entender a lógica, aorigem do universo?
Nos últimos anos, se você olhar osganhadoresdosPrêmiosNobel de Física, uma grande parcela deles  está relacionada à física de partículas e à cosmologia. Esses são os grandes temas
da ciência mundial, a origem do universo, de onde ele veio, como é que essas partículas  
elementares foram criadas e geraram a matéria ou a antimatéria. Mas a origem do universo, a origem da vida, a origemdamentehumana, aemergência da consciência fazem parte das grandes questões da ciência desde que o homem começou a andar pela planície da Etiópia e olhou para o céu. Acho que o primeiro que pegou na mão de sua companheira para passear numa noite de luar perguntou a simesmo: de onde vem tudo isso? Gosto muito de dizer o seguinte: aciência é um produto dos nossos circuitos neurais. Essa inquisição, essa quase obsessão de tentar explicar omundo emtorno de nós e a nós mesmos é um produto do cérebro, que curiosamente é um subproduto da poeira das estrelas. É como uma ânsia de voltar ao útero galáctico materno,  faz parte de nós. Eu acho que a coisa mais fascinante da ciência é ter o privilégio de  descobrir o caminho que nos trouxe até aqui.

O senhor costuma fazer associações entrea neurociência e aastronomia. Os astrônomos dizem estarmuito longede resolver os mistérios do universo. A quantas anda nossa sabedoria sobre o cérebro?
Estamos mais longe do que os astrofísicos, mas isso não impedeaeuforiaemcadanova descoberta nem a obsessão por um melhor entendimento. O cérebro é a essência do que somos. Ele define tudo o que chamamos de humanidade, as características e os comportamentos que ao mesmo tempo nos identificam como indivíduo único e também como parte de uma espécie. Ao mesmo tem poque nos dá essa assinatura quase egoísta da individualidade, ele nos fornece a garantia de pertencer a um coletivo.Éacessível paraum indivíduo e para o rest da humanidade, e poucas coisas no universo, que a gente saiba, têm essa característica.  Se você me perguntar o que fazumhistoriador, diria que conta a história produzida por cérebros. O jogador defutebol, o corredor, o nadador brilhante são a exemplificação mais pura da eficiênciado código neuralque controla o comportamento motor. São todos retratos cerebrais, imagens produzidas pelo mesmo órgão. ADarpa,agênciaamericanaencarregada de criar as tecnologias de que os americanos necessitam, fez uma lista de 23 problemas a resolver. O primeiro é desenvolver uma teoria matemática que leve à construção de um modelode cérebro humano que seja matematicamente consistente e preditivo, em vez de meramente inspirado em biologia.

É possível solucionar esse problema?
Não dessa forma. A Darpa é conhecida por soltar certas coisas por vezes absurdas para motivar a criatividade do cientista. Acredito piamente que nós vamos explicar o cérebro num futuro muito distante, e a matemática é a linguagem da natureza, mas essa formulação  peca por carregar um ranço antibiológico com o qual, como experimentalista, eu não posso concordar. Se não levar em conta a biologia, você não consegue construir um modelo de cérebro. Esquece.  Soa mais como papagaiada de um burocrata do que coisa real. Não seria a primeira vez, aliás, em que discordo  da Darpa. 

Se o senhor algum dia recebesse o telefonema de congratulações da Academia Sueca, o que diria?
Eu diria que era trote e voltaria a dormir. 


FIOCRUZ–Programas que usam anti-retrovirais em larga escala, como o brasileiro, sofrem impacto do custo “O Brasil já deveria ter ganhado oprêmio. Carlos Chagaséo exemploclássico” “A questão é que o País teve e ainda te muita dificuldade  em estabelecer   grandes árvores genealógicas  científicas, que  sejam perpetuadas ao longo dos anos. Temos exércitos de pessoas brilhantes, masnão um arcabouço que permita que essa massa crítica se expanda.”

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