quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Componente químico de plásticos 'afemina' meninos, diz estudo

BBC Brasil
Atualizado em  16 de novembro, 2009 - 20:18 (Brasília) 22:18 GM



Os ftalatos influenciariam o comportamento dos meninos

Uma pesquisa feita nos Estados Unidos indica que a exposição de gestantes a certas substâncias presentes na composição de plásticos pode mudar o comportamento de seus filhos do sexo masculino, fazendo com que eles fiquem “mais femininos”.

De acordo com o estudo, de pesquisadores da University of Rochester, alguns tipos de compostos químicos conhecidos como ftalatos interferem no desenvolvimento do cérebro, bloqueando a ação do hormônio masculino testosterona nos bebês.

Os ftalatos são encontrados em embalagens para alimentos, certos tipos de pisos e cortinas plásticas, colas, corantes e artigos têxteis, entre outros itens. Há vários tipos dessa substância, e alguns simulam o efeito do hormônio feminino estrogênio.

A equipe de pesquisadores, liderada por Shanna Swan, testou amostras de urina de gestantes a partir da metade da gravidez procurando por traços de ftalatos.

As mulheres deram à luz 74 meninos e 71 meninas. Quando os meninos tinham entre quatro e sete anos, os pesquisadores perguntaram às mães sobre seus brinquedos e brincadeiras preferidos.

Eles verificaram que a presença de dois tipos de ftalatos, o DEHP e o DBP, tinha relação com a forma de brincar das crianças.

Ftalatos

  • Há vários tipos de ftalatos e os mais usados são tidos como totalmente seguros por órgãos reguladores
  • DEHP: Usado para amaciar PVC e em produtos como pisos
  • DBP: Usado como plastificante em colas, corantes e tecidos
Os meninos expostos a altas doses desses compostos apresentaram menor tendência a brincar com carros, trens ou armas de brinquedo e a participar de brincadeiras mais agressivas, como lutas.


Banidos na UE

Já se sabia que as substâncias interferem na ação de hormônios no organismo e, por isso, elas foram banidas de brinquedos na União Europeia há alguns anos.

A equipe responsável pelo novo estudo também já havia provado a associação entre a substância e meninos nascidos com anomalias nos genitais.

"Nossos resultados precisam ser confirmados, mas são intrigantes em muitos aspectos", disse Swan.

"Não apenas são consistentes com descobertas anteriores, associando os ftalatos a alterações no desenvolvimento dos genitais, mas também são compatíveis com conhecimentos atuais sobre como os hormônios moldam as diferenças sexuais no cérebro e, portanto, o comportamento."

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Consciência vista pela neurociência



António Damásio, o autor de O Mistério da Consciência, um dos maiores neurologistas do mundo, diz que a grande polémica, no futuro, será o controle das emoções pelo conhecimento da mente
No campus da Universidade de Iowa, Estados Unidos, o neurologista português António Damásio gasta boa parte do tempo tentando compreender uma das áreas mais nebulosas do conhecimento: a consciência humana. "É difícil encontrar um desafio mais instigante para um cientista", diz Damásio. "Afinal, o que poderia ser mais fascinante do que conhecer o modo como conhecemos?"
Nos seus dois livros, O Erro de Descartes e O Mistério da Consciência (editados no Brasil pela Companhia das Letras), Damásio descreve como a consciência abriu caminho para uma verdadeira revolução na natureza, tornando possível o surgimento da religião, da moral, da organização social e política, das artes, da ciência e da tecnologia. Ele tenta encontrar as respostas para as questões mais antigas da filosofia pesquisando o que há de mais novo no conhecimento do cérebro. Depois da polémica em torno da clonagem humana, ele prevê que os debates mais fervorosos da ciência estarão ligados à possibilidade de manipularmos nossas emoções por meio de uma melhor compreensão da mente.
Qual a origem da consciência humana?
A consciência é fruto da necessidade básica de nos mantermos vivos. É claro que, na natureza, existe uma série de organismos simples que vivem de uma forma basicamente automática. Desde que mantenham cuidados básicos, como evitar perigos e adquirir a energia por meio dos alimentos, a vida desses organismos pode ser preservada. Os seres humanos são mais complexos: além de precisarem manter a vida de uma forma simples, eles têm que se adaptar a um ambiente cheio de dificuldades para obter energia e se expõem a inúmeros perigos e oportunidades. Nesse ambiente que não é apenas físico, mas também cultural, precisamos de um sistema complexo de imaginação, criatividade e planeamento. A consciência surge dessa necessidade.
Existe uma primeira forma de consciência?
Uma forma de consciência inicial aparece quando o homem sente que ele é um ser em si mesmo. É difícil encontrar uma palavra, em português, para definir o processo. Chamo essa consciência de self. É ela que faz que não sejamos um robô, uma máquina manipulável. Podemos guiar a imaginação e conduzir a criatividade por meio dessa consciência. Para compreendermos o que é a dor, o sofrimento, e também o prazer das outras pessoas, precisamos antes ter uma ideia de quem somos. E a consciência self é fundamental para que possamos respeitar os outros.
Como o estudo da consciência pode melhorar a vida das pessoas?
Grande parte do sofrimento humano é causado por conflitos das pessoas consigo mesmas. Quando conhecemos mais a natureza biológica do homem, encaramos esses problemas com outro olhar. Se conhecemos os mecanismos que accionam a ansiedade, a tristeza e a alegria, podemos entender melhor como cada pessoa é e evitar certos problemas. Pense nos conflitos religiosos, políticos e de grupos sociais. É claro que há bases económicas para eles – mas acredito que a compreensão das emoções pode ajudar a mudar a maneira pela qual as pessoas tentam resolver essas disputas. Entender a tendência para a violência, para a competição ou o funcionamento do medo é fundamental para o autocontrole. Posso soar optimista, mas acredito que, quando admitirmos que nossa razão é influenciada por essas emoções, o mundo poderá tornar-se melhor.
A compreensão detalhada da consciência não pode nos tornar mais céticos – ao descobrirmos, por exemplo, que há, no cérebro, uma região responsável pelo amor ou outra pela fé?
Mesmo que venhamos a compreender a mente com mais profundidade, será muito difícil desvendar mistérios como a origem do universo ou o que faz com que nos apaixonemos por outra pessoa. É possível que nunca cheguemos a desvendar essas questões – talvez nosso cérebro não tenha capacidade para compreender certos enigmas...
Como a crença em Deus...
Exactamente. Acho improvável que a neurociência consiga, um dia, apresentar razões para que as pessoas tenham ou deixem de ter fé numa inteligência superior. Elas podem até deixar de acreditar em milagres. Mas a ciência não tem como concluir que o Criador existe ou deixa de existir. A fé e a origem do universo não são problemas científicos passageiros. Mesmo assim, o conhecimento da mente pode mudar a forma como nos relacionamos com a vida. As pessoas tendem a aceitar a morte em função da complexidade do universo. Acho que deveria ser o contrário: constatando como a vida é frágil, podemos dar mais importância a ela e trabalhar para que seja a melhor possível enquanto dure.
A cada ano surgem um novo antidepressivo e drogas que provocam emoções artificiais. Você acredita que, no futuro, teremos uma droga que possa acabar com as emoções negativas?
Acho que sim. É uma questão importante, que precisaremos discutir cada vez mais. Imagine uma superpopulação tomando Prozac diariamente. Esse grupo de pessoas alteraria um sistema natural e poderia causar diversos problemas – é claro que alguns problemas seriam resolvidos, mas as consequências da proliferação dessa medicação poderiam levar à ruína de uma sociedade. Tem que haver mais investigação sobre como essas drogas serão usadas. É claro que as pessoas deprimidas devem ser tratadas, mas pode ser um erro tomar o medicamento apenas para inibir a timidez e impulsionar a vida social. A ciência precisa trazer mais informações para que esses temas não sejam discutidos pela simples opinião ou intuição de algumas pessoas.
Chegaremos, um dia, a manipular tão bem as áreas do cérebro que poderemos reproduzir com uma pílula a sensação de voar ou de passear numa montanha russa?
É bem provável que isso seja possível. E, sem dúvida, para a sociedade esse será um assunto tão polêmico quanto o da clonagem genética. Vamos ter que decidir o que deve e não deve ser permitido – exatamente como na regulamentação da indústria do cinema e da televisão. Há um ponto em que tanto a criação artística quanto a científica precisam ser filtradas pela sociedade. Mas não podemos deixar que um burocrata decida isso. Quanto mais informações forem divulgadas no futuro, inclusive por meio desta revista, mais condições a sociedade terá para tomar suas decisões.
Que outro tipo de realidade virtual poderá ser criada, no futuro, manipulando o cérebro?
Prefiro não especular, tudo ainda não passa de teoria.
O estudo da consciência humana é um campo da ciência à espera de um novo Newton?
O problema da consciência é um tema complexo, que tem sido mal abordado. É evidente que é necessário avançar muito mais. Acho que meu livro O Mistério da Consciência traz alguns avanços importantes sobre o assunto, mas não devemos ter a ingenuidade de acreditar que tudo está resolvido. Há imensos problemas à espera de mais investigação e trabalho. Nos próximos dez ou 20 anos, talvez seja possível resolver boa parte deles.
Como escrever sobre assuntos tão complexos para o público leigo?
Os temas sobre os quais escrevo são importantes demais para ficarem restritos aos cientistas. Escrever sobre o pâncreas ou o fígado pode ser atraente apenas para os médicos, mas o público tem interesse quando falamos da mente, do pensamento, da emoção e do sentimento. É fantástico o retorno que tenho recebido dos leitores dos meus livros em todo o mundo. Interessados em arte, literatura e cinema dizem que essa pesquisa os ajuda a compreender melhor o que fazem nas suas próprias áreas.

domingo, 28 de junho de 2009

5 June 2009
Did population density create modern humans?
by Kate Melville

A controversial new study in the journal Science argues that increasing population density, rather than growth in the power of the human brain, is what catalyzed the emergence of modern human behavior. The University College London (UCL) scientists behind the study say that high population density leads to greater exchange of ideas and skills and prevents the loss of new innovations. It is this skill maintenance, they contend, combined with a greater probability of useful innovations, which led to modern human behavior appearing at different times in different parts of the world.

In the study, the UCL team found that complex skills learnt across generations can only be maintained when there is a critical level of interaction between people. Using computer simulations of social learning, they showed that high and low-skilled groups could coexist over long periods of time and that the degree of skill they maintained depended on local population density or the degree of migration between them.

Using genetic estimates of population size in the past, the team went on to show that density was similar in sub-Saharan Africa, Europe and the Middle-East when modern behavior first appeared in each of these regions. The paper also points to evidence that population density would have dropped for climatic reasons at the time when modern human behavior temporarily disappeared in sub-Saharan Africa.

"Our paper proposes a new model for why modern human behavior started at different times in different regions of the world, why it disappeared in some places before coming back, and why in all cases it occurred more than 100,000 years after modern humans first appeared," explains UCL's Adam Powell. "By modern human behavior, we mean a radical jump in technological and cultural complexity, which makes our species unique. This includes symbolic behavior, such as abstract and realistic art, and body decoration using threaded shell beads, ochre or tattoo kits; musical instruments; bone, antler and ivory artifacts; stone blades; and more sophisticated hunting and trapping technology."

While modern humans have been around for at least 160,000 years, there is no archaeological evidence of any technology beyond basic stone tools until around 90,000 years ago. In Europe and western Asia this advanced technology and behavior exploded around 45,000 years ago when humans arrived there, but doesn't appear in eastern and southern Asia and Australia until much later, despite a human presence. In sub-Saharan Africa the situation is more complex. Many of the features of modern human behavior are found some 90,000 years ago but then seem to disappear around 65,000 years ago, before re-emerging some 40,000 years ago.

"Scientists have offered many suggestions as to why these cultural explosions occurred where and when they did, including new mutations leading to better brains, advances in language, and expansions into new environments that required new technologies to survive. The problem is that none of these explanations can fully account for the appearance of modern human behavior at different times in different places, or its temporary disappearance in sub-Saharan Africa," noted UCL's Professor Stephen Shennan.

"We often imagine some sudden critical change, a bit like when the black monolith appears in the film 2001: A Space Odyssey. In reality, there is no evidence of a big change in our biological makeup when we started behaving in an intelligent way. Our model can explain this even if our mental capacities are the same today as they were when we first originated as a species some 200,000 years ago," added co-researcher Mark Thomas. "Ironically, our finding that successful innovation depends less on how smart you are than how connected you are seems as relevant today as it was 90,000 years ago."

Related:
Ancient diaspora was a manly affair
Neanderthals' Last Hurrah Surprisingly Sophisticated
Language-Gene Evolution Shared By Humans And Neanderthals
Migration Out Of Africa May Have Occurred Later Than Previously Thought
Did Civilization Emerge Thanks To A Change In The Weather?

Source: University College London


Alex e noz

Livro recém-lançado no Brasil conta a história do papagaio mais inteligente do mundo e de um campo de pesquisa em crise
Mike Lovet/Universidade Brandeis



Alex, o Einstein dos papagaios, que em 30 anos de treinamento aprendeu a contar até seis

CLAUDIO ANGELO


Quero noz. Nnn... óo...zzz."

Depois de muito pedir à sua treinadora, que insistia em tentar fazê-lo associar cores a sons num teste cognitivo, Alex perdeu a paciência. Sem que ninguém lhe ensinasse, soletrou a palavra, para deixar claríssimo a Irene Pepperberg que ele não queria fazer teste nenhum. Queria noz.
Alex era um papagaio cinzento africano. Seus 30 anos de treinamento por Pepperberg deram à ciência um vislumbre inédito da inteligência animal e mudaram o sentido da expressão "cérebro de passarinho".

A história de Alex e de sua treinadora chega pela primeira vez ao leitor brasileiro. Acaba de ser lançado "Alex e Eu", uma espécie de livro de memórias da pesquisadora americana, que mistura as biografias dela e da ave com preciosas pitadas de ciência -e muito chororô.

Concebido para ser uma homenagem póstuma a Alex, morto em 2007, o livro acaba ganhando um tom de catarse psicanalítica de Pepperberg. Ela descarrega as frustrações de sua infância infeliz na periferia de Nova York, de sua relação com a mãe que a detestava, reclama do machismo na academia, do ex-marido e do emprego de verdade que nunca arrumou, mesmo depois que Alex adquiriu status de celebridade científica mundial.

O que poderia ser uma excelente obra sobre comportamento animal para o grande público acaba virando apenas uma boa obra sobre comportamento de dois animais (o papagaio e sua treinadora), que frequentemente resvala para o melodrama. Ainda assim, o livro vale, hã... a pena.

Pepperberg adquiriu Alex ainda filhote, em uma loja de animais em Chicago. Perdida após um doutorado em química analítica no MIT, estava disposta a estudar cognição em aves usando a técnica do modelo-rival, desenvolvida nos anos 1970 para ensinar a linguagem humana a chimpanzés.

A técnica consistia não em ensinar diretamente ao animal, mas em fazê-lo observar um outro ser humano responder a perguntas e ser recompensado ou repreendido.

Ninguém imaginava que essa técnica pudesse funcionar com papagaios. Afinal, chimpanzés e humanos têm cérebros semelhantes e estão separados por apenas 6 milhões de anos de evolução. Papagaios têm um cérebro do tamanho de uma noz e seu último ancestral comum com os seres humanos tem 380 milhões de anos.

Banareja
Com Alex funcionou. O papagaio aprendeu conceitos de cor, forma e números. Surpreendia a treinadora fazendo o uso correto de "desculpa" e "não", soletrando palavras simples e até mesmo combinando conceitos. Numa das passagens mais divertidas do livro, Pepperberg conta como Alex, depois de aprender a falar "rolha" e "noz" passou a chamar amêndoa de "rolha noz". Ela uma vez apanhou a si mesma num supermercado perguntando onde ficavam as "rolhas nozes".
Em outra história, que já entrou para o folclore da etologia, Pepperberg e seus colaboradores estão para apresentar a Alex a fruta e a palavra "maçã". Depois de meses, um belo dia o papagaio dispara: "Banareja. Quero banareja". "Não, Alex, maçã", retrucou Pepperberg. "Banareja", treplicou a ave.

Aparentemente Alex havia fundido dois conceitos conhecidos, "banana" e "cereja", para nomear a nova fruta, que afinal era vermelha por fora e branca por dentro. A pesquisadora, no entanto, nunca conseguiu prova científica dessa elisão léxica.

A morte precoce de Alex deixa sem resposta várias perguntas sobre qual é o limite da cognição das aves. Mas, mais do que isso, ela põe em xeque esse campo de estudos e as carreiras de cientistas que passaram décadas fazendo um esforço monumental para ensinar bichos e obter resultados modestos.

Exceção?
Alex era um gênio, sem dúvida -mas mesmo assim levou 30 anos para aprender a contar até seis. Mas e os outros papagaios? Pepperberg treinou mais dois, Griffin e Wart, que nunca chegaram nem perto das habilidades do Einstein emplumado (Alex, aliás, não perdia uma oportunidade de humilhá-los no laboratório, dizendo: "Fale claramente!"). Outros animais, como o bonobo Kanzi e a gorila Koko, também adquiriam um certo vocabulário, mas pareciam incapazes de linguagem autônoma.

Baseado em 15 anos de experiência própria com comunicação animal e no histórico frustrante desses estudos, o psicólogo americano Marc Hauser chegou a propor que não adianta buscar nos animais as raízes da cognição do Homo sapiens -esta se desenvolveu recentemente, nos últimos 6 milhões de anos, embora a inteligência geral seja compartilhada.

Segundo Hauser, enquanto a inteligência humana se assemelha à luz de uma lâmpada, na qual a capacidade de resolver um problema é aplicada a outros, os outros animais têm uma inteligência de raio laser, direcionada a desafios específicos -como obter comida.

Por mais eloquente que fosse, no fim das contas Alex talvez só estivesse tentando descolar uma noz.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Azul mental

por Kentaro Mori
Monspiral
Exercício de meditação: contemple as espirais, em sua bela disposição lembrando uma mandala. Aprecie suas cores chamativas, e concentre-se nas espirais verde e azul. Medite e contemple bem, porque as espirais verde-limão e azul-bebê são na verdade exatamente da mesma cor.

As espirais verde e azul são ambas desta cor:
verdeorig
Os valores RGB são 0,255,150 ou #00FF96 em hexadecimal, e podem ser checados em qualquer programa gráfico. Repetindo: o verde-limão e o azul-bebê que achamos ver são em verdade o tom de verde que se vê acima.
Além de verificar as cores em um programa, você pode imprimir a imagem em papel e recortar os pedaços, ou conferir as demonstrações abaixo.
Na animação a seguir, criada especialmente para esta coluna, não há nenhum truque. Nenhuma cor é alterada, a animação consiste em um simples zoom na seção “azul”. Note como nossa percepção da cor muda, embora não consigamos perceber exatamente quando o verde se torna azul, e vice-versa. Quando você se dá conta, o verde já é azul. E vice-versa.
É um tanto desorientador observar a animação por muito tempo. Diz a lenda que uma menina que a observou por mais de cinco minutos arrancou os olhos e que se você não a repassar para cinco pessoas, seu cabelo irá cair, em formato espiral. Ou não, claro.
Outra forma de ilustrar o efeito é pintando as cores adjacentes:
Monspiralmod
Apenas as cores adjacentes foram pintadas, as espirais foram mantidas intactas.
E, para quem desconfiar que é a espiral-mandala com poderes místicos a responsável pela ilusão, a versão abaixo, um tanto monótona, também exibe o efeito:
color_illusion
O “verde” e o “azul” ainda são do mesmo tom.
Estas outras versões do efeito devem ter evidenciado que o que está em ação aqui tem relação com as cores adjacentes, o “fundo” contra o qual as cores são vistas. Altere o fundo, e o efeito se altera ou mesmo desaparece. A espiral é apenas uma forma especialmente bela de ilustrar o fenômeno de percepção.
Aqui em Dúvida Razoável, ilusões óticas de cor são um dos temas mais explorados. Desde a segunda coluna, que apresentava outros exemplos; até o magenta… e todas as outras cores da massa cinzenta, abordando em maiores detalhes nossa percepção e como cores adjacentes influenciammaior o que vemos.
Nem o verde-limão nem o azul-bebê estão realmente lá, são um verde e azul “mentais”. Essa ilusão ótica é surpreendente, mas talvez não mais do que a constatação de que todas as cores são construções mentais.
- – -
A espiral de cores é original de Akiyoshi Kitaoka, pesquisador responsável por muitas outras demonstrações famosas na rede de ilusões óticas. Já a versão retangular destacando apenas o efeito das cores é de Cuneyt Ozdas. Por fim, foi o psicólogo britânico Richard Wiseman que chamou atenção à ilusão, criada por Kitaoka há alguns anos mas circulando mais pela rede nos últimos dias.
Não deixe de ler o artigo sobre o magenta para descobrir mais sobre nossa percepção de cores. É um assunto genuinamente psicodélico.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A aventura do conhecimento de Miguel Nicolelis e Drauzio Varella




Divulgação
Prazer em conhecer. Drauzio Varella e Miguel Nicolelis, mediação de Gilberto Dimenstein. Editora Papirus 7 Mares, 2009. 112 páginas. R$ 28,00
Na ciência, o culto às celebridades é bem menos comum e muito menos estridente que no futebol ou na TV, mas o que aconteceu com o neurocientista Miguel Nicolelis e o médico Drauzio Varella é algo para ser comemorado. Como cientistas ambos podem não ser tão famosos ou conhecidos do público, mas suas trajetórias profissionais têm muito a ensinar. Esse é o espírito do livro Prazer em conhecer, lançado pela Editora Papirus 7 Letras, que traz depoimentos dos dois, numa conversa mediada pelo jornalista Gilberto Dimenstein. No livro, o leitor poderá conhecer os detalhes biográficos de cada um e o que é mais importante, a opção visceral de dois brasileiros pela busca e a divulgação do conhecimento.

Miguel Nicolelis é professor da Universidade de Duke, Estados Unidos, mundialmente respeitado por suas pesquisas com interface cérebro-máquina. Já fez com que a atividade cerebral de macacos movimentasse membros robóticos que, num futuro não tão distante, podem melhorar a qualidade de vida de pessoas amputadas ou paralisadas. No Brasil, é o mentor do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra, iniciativa inovadora plantada no nordeste brasileiro e que combina ciência de ponta com responsabilidade social.

Médico oncologista, Varella se notabilizou com o best-seller Estação Carandiru (1999), baseado no seu trabalho voluntário com presidiários, e que ganhou as telas do cinema em 2002. Autor de outros livros como Por um fio (2004), um coleção de ensaios sobre a morte, e Médico doente (2007), em que narra sua experiência pessoal com a febre amarela que quase lhe tirou a vida, Varella se popularizou com séries exibidas no Fantástico, em que trata de temas de saúde com precisão, simplicidade e sensibilidade incomuns.

Canal Livre - Migule Nicolelis


http://www.youtube.com/watch?v=GdtKPXGDJtw

Palestra Miguel Nicolelis em São Paulo

terça-feira, 16 de junho de 2009

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Cérebro sociável



Novas pesquisas lançam luz sobre a rara síndrome de Williams, que combina deficiência cognitiva com grande espírito de sociabilidade
DAVID DOBBS
DO "NEW YORK TIMES"
Se uma pessoa sofre o pequeno acidente genético que causa a síndrome de Williams, terá de conviver não só com algumas deficiências de conhecimento bastante convencionais -problemas de percepção espacial e numérica como também com um conjunto estranho de traços designados como "fenótipo social de Williams" ou, em termos menos formais, "personalidade Williams": um amor pela convivência e pela conversação que se combina, em muitos casos de maneira incômoda, com baixa compreensão da dinâmica social e falta de inibições sociais. A combinação resulta em certos encontros memoráveis.
Oliver Sacks, o neurologista e escritor, certa vez observou uma menina de oito anos especialmente charmosa e portadora da personalidade Williams. A menina estava em visita a Sacks, no hotel em que estava hospedado, e decidiu puxar conversa com os convidados de uma festa de casamento no salão. "Eu temo que ela tenha quebrado o ritmo do casamento", disse Sacks.

 A história é típica dos pacientes portadores da síndrome de Williams, que nasce de um acidente genético durante a meiose, quando a dupla espiral do DNA se divide em duas porções separadas, as quais, por sua vez, terminam por se tornar material genético no óvulo e no espermatozóide. Normalmente, as duas porções se separam sem problemas, como as duas metades de um zíper que se abre. Mas, no caso da síndrome de Williams, cerca de 25 dentes de um dos lados do zíper -25 genes entre os 30 mil presentes no óvulo ou espermatozóide- se rompem durante o processo. Quando essa metade do zíper se une à metade oposta, vinda da outra pessoa envolvida na concepção de um novo bebê, a falta dos 25 dentes naquele segmento do DNA impede que os genes envolvidos realizem o trabalho que se espera deles.

 As deficiências cognitivas resultantes se fazem sentir em especial no ramo do pensamento abstrato. Muitos pacientes de Williams têm um conceito de espaço tão vago que, mesmo na idade adulta, encontram dificuldades para montar quebra-cabeças com apenas seis peças, perdem-se com facilidade, desenham como se tivessem cinco anos de idade e encontram problemas para reproduzir formatos simples como um X ou um T usando bloquinhos de construção. Poucos deles são capazes de manter em dia o saldo de suas contas bancárias. As deficiências causadas em geral reduzem em cerca de 35 pontos o QI que a pessoa teria herdado caso não tivesse o problema. Já que o QI médio é de 100, isso faz com que muitos dos pacientes de Williams tenham QIs da ordem dos 60 pontos. Ainda que alguns deles sejam capazes de obter e manter empregos simples, precisam de ajuda para administrar suas vidas.

Espírito de sociabilidade
O baixo QI, porém, ignora dois traços que definem a síndrome de maneira mais distinta do que qualquer déficit: um exuberante espírito de sociabilidade e capacidades verbais quase normais. Os pacientes de Williams falam muito e falam com quase qualquer pessoa que encontrem. Parece lhes faltar qualquer temor social. De fato, varreduras magnéticas de seus cérebros demonstraram que o principal processador de medo do cérebro, a amídala cerebral, que na maioria de nós demonstra atividade acelerada quando vemos rostos zangados ou preocupados, não demonstra reação quando o paciente de Williams vê rostos com esse tipo de expressão. É como se todos os rostos que vissem expressassem amabilidade.

 Os pacientes de Williams tendem a carecer não só de temor social mas de agilidade social. Eles não conseguem identificar vários dos significados, maquinações, idéias e intenções que muitos de nós inferimos com base em expressões faciais, linguagem corporal, contexto e uso de clichês de linguagem.

Novas pesquisas
Depois de passar quase três décadas ignorada, a síndrome de Williams -identificada inicialmente em 1961 pelo cardiologista J.C.P. Williams, da Nova Zelândia- recentemente se tornou um dos distúrbios de desenvolvimento neurológico mais pesquisados, logo abaixo do autismo, e vem produzindo percepções ainda mais interessantes. O autismo, para começar, é um distúrbio de espectro muito mais diversificado, com fronteiras mal definidas, desprovido de mecanismo identificado e de base genética reconhecida. A síndrome de Williams, em contraste, deriva de causa genética conhecida e produz um conjunto previsível de traços e comportamentos.

 O trabalho de Julie Korenberg, neurogeneticista do Centro Médico Cedars-Sinai e da Universidade da Califórnia e pesquisadora que ajudou a definir o acidente genético causador da síndrome, é parte do diversificado esforço de pesquisa sobre a síndrome que vem iluminando um dilema central da existência humana: para sobreviver, precisamos nos relacionar e trabalhar juntos, mas também precisamos competir com outras pessoas, para que não fiquemos para trás. Isso requer uma combinação bem calibrada de inteligência, astúcia, garra e esforço. Se tivermos algum desses traços em dose insuficiente, seremos excluídos porque nosso desempenho é medíocre. Se tivermos um deles em excesso, podemos ser excluídos porque promovemos conluios e representamos uma ameaça. Onde fica o ponto de equilíbrio? Uma resposta parcial pode ser encontrada na mistura de capacidades, graças e deficiências que a síndrome de Williams exibe.

Casos raros
A raridade da síndrome de Williams a torna obscura. Ela atinge uma em cerca de 7,5 mil pessoas, ante uma em 150 para o autismo ou uma em 800 para a síndrome de Down. A menos que apresentassem os problemas cardiovasculares que também distinguem a síndrome (derivados da ausência do gene que cria vasos sangüíneos, válvulas cardíacas e outros tecidos elásticos e que ainda hoje limitam a 50 anos a expectativa de vida de um paciente de Williams), os portadores da síndrome costumavam ser considerados "retardados mentais".

 Isso terminou no final dos anos 1980, quando alguns pesquisadores no campo da neurociência cognitiva, que começava a ser desenvolvido, passaram a estudar a síndrome. Entre os mais dedicados estava Ursula Bellugi, diretora do Laboratório de Neurociência Cognitiva do Instituto Salk de Estudos Biológicos, na Califórnia. Bellugi, que se especializou na neurobiologia da linguagem, foi atraída pelo talento lingüístico que muitos dos pacientes de Williams exibiam apesar dos sérios problemas cognitivos. O primeiro que ela conheceu lhe foi encaminhado pelo lingüista Noam Chomsky. "A mãe daquela adolescente mais tarde me apresentou a dois outros adolescentes que também tinham a síndrome", conta Bellugi. "Eu não precisei conversar muito com eles antes de perceber que havia algo de especial. Eles sofriam de grandes déficits cognitivos, mas conversavam com ardor, animação, de maneira muito colorida."

 Bellugi descobriu que essa fantasiosa verbosidade vinha acompanhada de uma afabilidade contagiante. Os psicólogos especializados em desenvolvimento classificam esse ímpeto social como "pulsão de afiliação". Parecia claro, desde cedo, que os genes destruídos pela Williams, identificados definitivamente na metade dos anos 1990, reforçavam essa pulsão ou a deixavam inalterada. Pesquisar sobre as bases genéticas do comportamento humano é tentar identificar o que nos define mais essencialmente. Uma das questões mais incômodas geradas pela pesquisa sobre a síndrome de Williams e pela tese sobre o cérebro social é determinar se o nosso comportamento social é propelido mais pela pulsão de conexão ou pela sanha de manipular essas conexões.

 A inclinação tradicional, evidentemente, é distinguir o comportamento humano essencial pelas nossas capacidades mais "elevadas" e poderes cognitivos. Dominamos o planeta porque somos capazes de usar o pensamento abstrato, acumular e transmitir conhecimentos e manipular o meio e uns aos outros. Sob esses termos, nosso comportamento social nasce mais de cérebros grandes que de corações grandes. A dissociação de tantos elementos na síndrome de Williams -o cognitivo do conectivo, o medo social do medo não social, a tensão entre a pulsão de afiliação e a pulsão de manipulação- destaca a conexão delicada e essencial que existe entre eles em quase todos nós. Mas as cisões da síndrome também identificam claramente qual dos dois fatores -carinho ou entendimento- oferece a contribuição mais vital. Pois, se a síndrome de Williams causa desvantagem ao gerar mais carinho que compreensão, reverter esse desequilíbrio gera um fenótipo muito mais problemático.

 Como define Robert Sapolsky, da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, "os pacientes de Williams têm grande interesse, mas baixa competência. Já uma pessoa que tenha competência, mas não sinta empatia, emoção ou desejo merece que nome? Trata-se de um sociopata. Os sociopatas dominam as grandes teorias mentais. Mas não ligam para ninguém."

miugel micorelis -sabatina na folha


segunda-feira, 8 de junho de 2009

"Ciência é da humanidade", afirma pesquisador em sabatina

O neurocientista Miguel Nicolelis afirmou nesta segunda-feira (8) que a ciência "não é de ninguém, mas sim da humanidade", ao responder se o seu trabalho, publicado há dois meses na capa da revista "Science", poderia ser considerado como de autoria de um brasileiro.

O pesquisador é sabatinado hoje no Teatro Folha, no shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo. Seus entrevistadores são Claudio Angelo, editor de Ciência da Folha de S.Paulo, Gilberto Dimenstein, membro do Conselho Editorial da Folha, Hélio Schwartsman, articulista do jornal, e Suzana Herculano-Houzel, neurocientista e colunista do caderno Equilíbrio.
O paulistano Miguel Ângelo Laporta Nicolelis chefia um grupo de 30 pesquisadores no Centro de Neuroengenharia da Universidade Duke (EUA). Ele pesquisa as possibilidades de integrar o cérebro às máquinas. Busca o desenvolvimento de próteses neurais para a reabilitação de pacientes que sofrem de paralisia. Neste ano, ele criou uma técnica para tratar os sintomas do mal de Parkinson com suaves impulsos elétricos na medula espinhal.
"Se os testes em macacos forem tão bem quanto em ratos, deveremos começar testes clínicos em 2010", disse o neurocientista, acrescentando que a pesquisa começou a enxergar o mal de Parkinson como uma alteração córtex do cérebro --além da alteração no córtex motor.
"Estimulamos a medula espinhal, que estimula o sistema motor como um todo. A idéia e restaurar a mobilidade pela interface cérebro-máquina", observa.
Ele exemplificou o estudo com o fato de que, quando o pé toca o chão, a prótese envia o sinal para o córtex --assim como os comandos cerebrais chegam à prótese.

Neurocientista nega que cérebro humano seja formado por "casinhas isoladas"

08/06/2009 - 23h27

O cérebro humano não é formado por "casinhas" isoladas, cada uma com a Responsabilidade de controlar diferentes funções do corpo --na realidade, nossas atividades são definidas em múltiplas partes do órgão. A afirmação é do neurocientista paulista Miguel Nicolelis, que trabalha na Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA), e participou de sabatina promovida pela Folha na noite desta segunda-feira (8).
Com isso, ele se opõe aos estudos de Korbinian Brodmann sobre organização cerebral, que completam cem anos em 2009. Veja trechos da sabatina no vídeo abaixo.



"Estamos à beira de dizer que isso é balela", afirmou Nicolelis. Na visão do brasileiro, as funções do corpo não são determinadas "pela geografia", mas sim "pelas demandas que se impõem ao cérebro". "Se a pessoa perde a função visual, a função táctil se distribui para todo o córtex cerebral --inclusive para o córtex visual", diz.

Segundo o neurocientista, o cérebro tem a função de "remapear o mundo". "A plasticidade é inerente à dinâmica do cérebro, misturando múltiplas visões", informou.

Durante a sabatina, Nicolelis apostou no potencial da interação entre o cérebro humano e as máquinas, abrindo a possibilidade para que alguém "pense" em um lugar e uma ação seja desencadeada por um instrumento em um localidade distante.






"O nosso alcance vai mudar, no longo prazo, nossa noção de ambiente, de presença física", afirmou. "É como se houvesse uma incorporação ao corpo", afirma. Segundo ele, isso será possível por meio da interação entre as máquinas e o cérebro humano --que passaria a considerar aparelhos, mesmo que estivesse distantes, como se fossem parte do ser humano.

Para isso, é preciso que o cérebro receba e "entenda" os sinais emitidos pelos aparelhos e vice-versa. Segundo ele, isso não está muito longe. "No caso de um tenista, já é como se o cérebro entendesse a raquete como uma parte do corpo", diz.

Lado negro

Essas inovações dão motivos para que os mais alarmados pensem que a espécie humana está próxima de ser subjugada a artefatos tecnológicos que ela própria criou. Entretanto, na visão do neurocientista, não é o caso de se preocupar. Nicolelis vê que grande parte do medo das pessoas em relação à ciência --ou de seu "lado negro"-- vem da falta de informação.

"Não podemos mais aceitar uma ciência tão longe da sociedade, que seja algo tão distante, místico, alienado da população", afirma ele. "Não perco uma noite de sono pensando no risco de a tecnologia nos aniquilar."

De acordo com o pesquisador, depois da 2º Guerra Mundial, a mídia, os filmes e a literatura contribuíram para que a ciência fosse vista como algo misterioso, próximo dos filmes de ficção científica, em que as invenções podem ser usadas para o mal. Na visão dele, tudo, em tese, pode ter esse fim.

"Na faculdade de medicina eu aprendi 34 meios de fazer procedimentos cirúrgicos usando uma caneta Bic. Aprendi a fazer traqueostomia com uma Bic. Dá para fazer coisas piores."

Interação

Nicolelis também ressaltou aquilo que denominou de "globalização do bem" na ciência, permitindo o intercâmbio e encontro de cientistas de diversas nacionalidades.

O maior exemplo dessa "globalização científica" foi dado quando, ao ser questionado se a pesquisa publicada na revista "Science" deveria ser considerada como brasileira, Nicolelis afirmou que "o cara que teve a ideia nasceu na Bela Vista [bairro paulistano], mas um dos autores é chileno, outro alemão, outro americano. A ciência não é de ninguém, é da humanidade", observou.

Nicolelis chefia um grupo de 30 pesquisadores no Centro de Neuroengenharia da Universidade Duke. Ele pesquisa as possibilidades de integrar o cérebro às máquinas. Busca o desenvolvimento de próteses neurais para a reabilitação de pacientes que sofrem de paralisia.

No ano passado, a equipe conseguiu fazer um robô de 80 quilos e um metro e meio de altura andar usando apenas a força do pensamento de uma macaca. Detalhe: o animal estava em um laboratório na Carolina do Norte, EUA, e o robô estava no Japão.

Os experimentos são avanços na criação de uma interface entre cérebro e máquina que permita a pacientes paralisados andarem ou se movimentarem, guiando membros mecânicos apenas por meio de ondas cerebrais.

Entretanto, o foco de sua pesquisa é criar opções de tratamento para esses pacientes, e não, desenvolver uma cura. "Você não trata a lesão original, mas cria desvios para permitir uma reabilitação motora", diz. Um exemplo disso é a possibilidade de criação de uma veste robótica, totalmente movida por meio das ondas cerebrais, para permitir que pessoas com paralisias ganhem de novo o potencial de movimento.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Médicos suíços confirmam 'terceiro braço fantasma' em paciente

Imagem de cérebro

Cientistas usaram ressonância para comprovar comandos ao 'braço'

Médicos da Suíça conseguiram comprovar a existência de um terceiro "braço fantasma" em uma mulher que sofreu um derrame.

A paciente de 64 anos havia perdido as funções de seu braço esquerdo após o acidente cerebral.

Mas poucos dias depois, ela desenvolveu um "terceiro membro", que ela dizia enxergar e usar para tocar objetos e até coçar o braço direito.

Usando exames de ressonância magnética, especialistas do Hospital Universitário de Genebra confirmaram que o cérebro da mulher emitia comandos ao "braço fantasma" e reconhecia suas ações.

Raro

A paciente diz que seu novo membro fica à sua esquerda e tem uma cor de leite, "quase transparente".

Segundo o neurologista Asaid Khateb, chefe da equipe que analisou as imagens cerebrais, trata-se de um caso extremamente raro em que o paciente não somente sente o membro imaginário, como também o enxerga e o movimenta voluntariamente.

O médico disse ainda que esta é a primeira vez que se mede a atividade cerebral a partir do contato com um membro fantasma.

O fenômeno do membro fantasma está normalmente associado com pessoas que sofreram amputação. Segundo cientistas, entre 50% e 80% delas descrevem sensações de tato e dor na parte retirada.

As descobertas da equipe foram divulgadas na revista especializada Anais da Neurologia.                       

domingo, 29 de março de 2009

Maus-tratos na infância alteram até os genes ativos no cérebro

Pesquisadores canadenses estudaram neurônios de suicidas.

Alterações genéticas estão ligadas a resposta ao estresse.

Benedict Carey Do 'New York Times'

Durante anos, psiquiatras sabiam que crianças que sofrem abuso ou são negligenciadas correm um alto risco de desenvolver problemas mentais no decorrer da vida, de ansiedade e depressão a abuso de drogas e suicídio. A ligação não é surpreendente, mas levanta uma questão científica crucial: o abuso causaria mudanças biológicas que podem aumentar o risco desses problemas?

Durante as últimas décadas, pesquisadores da Universidade McGill, em Montreal, comandados por Michael Meaney, mostraram que o amor materno altera a expressão de genes em animais, permitindo a diminuição em sua reação fisiológica ao estresse. Esses locais de armazenamento biológico são então passados à próxima geração: roedores e primatas não-humanos biologicamente preparados para lidar com estresse tendem a ser mais cuidadosos com sua própria cria, conforme descobriram Meaney e outros pesquisadores.

Agora, pela primeira vez, eles têm uma prova direta de que o mesmo sistema funciona nos seres humanos. Num estudo sobre pessoas que cometeram suicídio, publicado na revista científica "Nature Neuroscience", pesquisadores de Montreal relatam que pessoas severamente abusadas ou negligenciadas na infância mostraram alterações genéticas que provavelmente as tornaram mais biologicamente sensíveis ao estresse. As descobertas ajudam a iluminar a biologia por trás das feridas de uma infância difícil e sugerem algo que constitui flexibilidade naqueles capazes de vencer essas feridas.

O estudo “estende o trabalho animal no ajuste do estress a humanos de maneira dramática,” escreveu num e-mail Jaak Panksepp, professor adjunto da Universidade Estadual de Washington que não estava envolvido na pesquisa. Ele acrescentou: “Trata-se de um ótimo exemplo de como o estudo de modelos animais de flexibilidade emocional podem facilitar a forma de compreender as vicissitudes humanas.” 

Duas dúzias de cérebros

No estudo, cientistas da McGill e do Instituto de Ciências Clínicas de Cingapura compararam os cérebros de 12 pessoas que haviam cometido suicídio e tiveram infâncias difíceis com 12 pessoas que haviam cometido suicídio e que não haviam sofrido abusos ou negligência enquanto crianças.

Os cientistas determinaram a natureza da criação dos objetos de estudo realizando extensas entrevistas com parentes próximos, assim como investigando registros médicos. Os cérebros estão preservados no Hospital Douglas, em Montreal, como parte do Banco de Cérebros de Suicidas em Quebec, um programa fundado por pesquisadores da McGill para promover estudos sobre o suicídio que recebe doações de cérebros de toda a província.

Quando as pessoas estão sob estresse, o hormônio cortisol circula largamente, colocando o corpo em alerta máximo. Uma forma pela qual o cérebro reduz essa ansiedade física é criando receptores em células do cérebro que ajudam a limpar o cortisol, inibindo a agonia e protegendo neurônios da exposição prolongada ao hormônio, que pode ser danosa.

Os pesquisadores descobriram que os genes que regulam esses receptores eram cerca de 40% menos ativos em pessoas que haviam sofrido abusos na infância. As mesmas impressionantes diferenças foram encontradas entre o grupo do abuso e os cérebros das 12 pessoas de um terceiro grupo, o de controle, que não haviam sofrido abuso e que morreram de outras causas que não o suicídio. “Isso é uma boa evidência de que os mesmos sistemas funcionam em humanos e em outros animais”, diz Patrick McGowan, pós-doutorando no laboratório de Meaney na McGill e autor-chefe do estudo. Seus co-autores, juntamente com Meaney, foram Aya Sasaki, Ana C. D'Alessio, Sergiy Dymov, Benoît Labonté e Moshe Szyf, todos da McGill, e o Dr. Gustavo Turecki, um pesquisador da McGill que dirige o Banco de Cérebros.

Graças a diferenças individuais no maquinário genético que regula a resposta ao estress, explicam os especialistas, muitas pessoas administram seu sofrimento a despeito de infâncias terríveis. Outros podem encontrar conforto em outras pessoas, o que os ajuda a normalizar a inevitável dor de viver uma vida inteira.

“A conclusão é que esta é uma linha de trabalho incrível, mas ainda há um longo caminho a se percorrer – seja para compreender os efeitos da experiência prematura ou as causas das doenças mentais”, disse por e-mail Steven Hyman, um neurobiólogo da Universidade Harvard.

Ver alguém que você inveja levar a pior dá prazer ao seu cérebro

Conclusão é de análise feita com ressonância magnética por japoneses.

Cientistas dizem que sentimentos invejosos são produto de vida social.

Natalie Angier Do 'New York Times'


A maioria dos vícios humanos tem sentido suficiente para ser muito, muito tentadora. Luxúria, gula, preguiça, lançar fortes expletivos a um membro da oposição política, comprar um par de sapatos de pele de cobra com 25% de desconto mesmo que tenha acabado de comprar um par de sandálias vermelho-cereja na semana passada – todas essas coisas são deliciosas, e é por isso que as pessoas precisam ser repetidamente lembradas de não fazer isso.

 

 

Foto: Serge Bloch/NYT

As desgraças dos outros podem ter gosto de mel, diz ditado japonês (Foto: Serge Bloch/NYT)

Um vício, entretanto, dispensa quaisquer enfeites hedônicos e gera tanta dor que você pensaria ser uma virtude, embora não haja nenhum ganho final em massa muscular: a inveja. Escondendo-se em sexto lugar nas listas tradicionais dos sete pecados capitais, entre a ira e a vaidade, a inveja é o profundo e muitas vezes hostil ressentimento que se sente em relação a alguém que tem algo que você quer, como dinheiro, beleza, uma promoção ou a admiração de um colega. É um vício que poucos podem evitar, mas que ninguém anseia, pois experimentar a inveja é se sentir menor e inferior, um perdedor embrulhado em maldade.

"A inveja é corrosiva, feia, e pode arruinar sua vida", diz Richard H. Smith, professor de psicologia da Universidade do Kentucky, que escreveu sobre a inveja. "Se você é uma pessoa invejosa, é difícil apreciar muitas das coisas boas que estão por aí, pois você está ocupado demais se preocupando sobre como elas se refletem em si próprias."

Agora, pesquisadores estão colhendo percepções sobre os interiores neurais e evolutivos da inveja, e por que ela pode parecer uma doença física ou um golpe real. Eles também estão traçando o caminho da igualmente pequena embalagem da inveja, a sensação de "schadenfreude" – sentir prazer quando aqueles que você inveja são levados à lona.

Numa edição recente da revista especializada "Science", pesquisadores do Instituto Nacional de Ciências Radiológicas, no Japão, e seus colegas descreveram exames cerebrais com participantes que tiveram de imaginar a si mesmos como protagonistas de dramas sociais envolvendo personagens com maiores ou menores status de realização. Ao confrontar personagens que os participantes admitiam invejar, as regiões cerebrais envolvidas em registrar a dor física eram estimuladas: quanto mais alto os participantes classificavam sua inveja, mais vigorosamente respondiam as saliências da dor no córtex dorsal anterior e áreas relacionadas. 

Bem feito

Ao mesmo tempo, dizem os pesquisadores, quando os participantes receberam a oportunidade de imaginar a queda do sortudo, os circuitos de recompensa do cérebro foram ativados, novamente em proporção à força da ferroada da inveja: os participantes que sentiram a maior inveja reagiram à desgraça do outro com uma reação mais vigorosa nos centros de prazer de dopamina como, por exemplo, o estriado ventral. "Temos um ditado em japonês: 'As desgraças dos outros têm gosto de mel'" diz Hidehiko Takahashi, o primeiro autor do estudo. "O estriado ventral está processando esse mel."

Matthew D. Lieberman, do departamento de psicologia na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, co-autor de um comentário que acompanha o relato, diz ter se impressionado por como os combinados neurais de inveja e schadenfreude eram amarrados conjuntamente, com a magnitude de um prevendo a força do outro. "É assim que funcionam outros sistemas de processamento de necessidades, como a fome e a sede", diz ele. "Quanto mais fome ou sede você sente, o mais prazeroso será quando você finalmente beber ou comer."

As novas descobertas são preliminares, mas alguns cientistas expressaram reservas sobre o que elas ou outros resultados de exames do dinâmico campo de neurociência comportamental realmente significam. Todavia, a pesquisa lança uma luz sobre uma poderosa emoção que nós negamos ou ridicularizamos, mas ignoramos por nossa conta e risco. Grande parte da recente crise econômica, sugere Smith, pode muito bem ter sido abastecida por inveja fugitiva, à medida que financistas competiam para evitar a vergonha de ser um "mero" milionário. 

Correlatos animais

A inveja pode ser vista em outros animais sociais com reputações pessoais a defender. Frans de Waal, do Yerkes National Primate Research Center em Atlanta, apontou que os macacos eram felizes em trabalhar por fatias de pepino, até que uma pessoa passou a dar recompensas melhores, como uvas, a um dos macacos. Então os outros pararam de trabalhar por pepino e começaram a criar um rancor. "A emoção primária é provavelmente a inveja ou o ressentimento", diz de Waal.

Quando as crianças percebem que têm irmãos, suas vidas se tornam dominadas pela inveja. Por que ela sempre se senta na janela? O pedaço de bolo dele é maior! Sem irmãos? Tudo bem: você pode invejar o gato.

Pesquisadores muitas vezes distinguem entre a inveja e o ciúme que você sente, digamos, ao ver seu amado flertar com outra pessoa numa festa. O ciúme é um triângulo, diz Smith, no qual você teme perder um ser amado para outra pessoa. A inveja é um assunto entre duas pessoas, uma flecha indo de seu seio invejoso ao coração do outro mais favorecido. Embora a inveja seja incansável e gregária, podendo abraçar facções populares, a honra gira e completa Estados-nações. "É um fato da vida que prestemos muita atenção ao status, a quem está indo bem e quem não está, e como parecemos em comparação a outros", diz Colin W. Leach, professor associado de psicologia na Universidade de Connecticut, em Storrs, que estuda a inveja.

Como regra, invejamos aqueles que são como nós em muitas maneiras – sexo, idade, classe e currículo. Ceramistas invejam ceramistas, observou Aristóteles. Paradoxalmente, essa indução de emoções principalmente social tem sua confissão entre as menos socialmente aceitáveis. Hostilidade ciumenta a um rival romântico é um tópico aceitável para conversação. Hostilidade invejosa a um rival profissional é mais como uma função corporal constrangedora: por favor, não compartilhe. Quando questionados por pesquisadores sobre sua inveja, participantes de estudos disseram: "Estou secretamente envergonhado de mim mesmo."

Da forma como os cientistas evoluciotivos a veem, as características importantes da inveja – a persistência e universalidade, sua fixação com o status social e o fato de coexistir com a vergonha – sugerem o desempenho de um profundo papel social. Elas propõem que nossos impulsos individuais podem ajudar a explicar por que os humanos são comparativamente menos hierárquicos que muitas espécies primatas, mais inclinados a um igualitarismo bruto e a se rebelar contra reis e magnatas que conseguem mais do que sua parte justa.

A inveja também pode nos ajudar a manter a linha, nos tornando tão desesperados para parecermos bem que tomamos a estrada correta e começamos a agir bem. Lutamos com nossa inveja particular, nossos anseios por mais estima, e a luta só aguça o doloroso contraste entre a suposta perfeição do adversário, que santificamos num trono imaginário e a mercadoria defeituosa que somos nós mesmos.

"Se você deseja a glória, pode invejar Napoleão", disse Bertrand Russell. "Mas Napoleão invejava César, César invejava Alexandre, e Alexandre, ouso dizer, invejava Hércules, que nunca existiu." Se a inveja é um imposto cobrado pela civilização, todos precisam pagar.

Genética influencia modo de funcionamento do cérebro, diz estudo

Pesquisa envolveu a comparação de gêmeos idênticos e irmãos.
Resultado sugere que genes influenciam desempenho cognitivo.

Salvador Nogueira

 

Ativação média de um cérebro no estudo

Características como inteligência e personalidade podem ser herdadas geneticamente? O que faz uma pessoa agir de um determinado modo, a natureza ou a criação? Essas São algumas das questões mais intrigantes e controversas da ciência, e as respostas para elas só podem estar em um lugar: o cérebro. Agora, um novo estudo joga luz sobre a polêmica.

A pesquisa, encabeçada por Jan Willem Koten Jr., da Universidade Aachen, na Alemanha, usou as tradicionais imagens de ressonância magnética funcional para identificar potenciais mudanças em ativação de circuitos cerebrais pautadas pela genética.

Para fazer a constatação, ele comparou membros de dez trios de irmãos, dos quais dois eram gêmeos idênticos -- portanto, possuíam a mesma constituição genética.

Durante as observações do cérebro, os participantes tinha de realizar tarefas cognitivas ligadas à memória. Mais especificamente, tinham de memorizar a presença de um dígito específico num quadro de números enquanto eram distraídas pela realização de operações aritméticas ou categorização de objetos diferentes.

Estudos anteriores com gêmeos já tinham tentado encontrar potenciais diferenças no cérebro com base na genética, mas sem sucesso. Isso porque eles tentaram focar em partes específicas do órgão.

"Influências genéticas em ativação cerebral de áreas que tipicamente servem a uma função cognitiva devem ser modestas, porque essas áreas serão ativadas de forma similar em todos os humanos", explicam Koten Jr. e seus colegas, em artigo publicado na edição desta semana do periódico científico americano "Science". 

 Para o novo estudo, os pesquisadores decidiram olhar o cérebro como um todo. E aí sim conseguiram notar algumas diferenças entre os cérebros dos gêmeos e o de seu irmão não-idêntico -- focadas mais no hemisfério esquerdo do órgão. 


"Nossos achados demonstram que existem diferenças influenciadas geneticamente em padrões de ativação do cérebro, causando diferenças qualitativas em rotas de processamento neurocognitivo", concluem os cientistas.

Na prática, isso quer dizer que pelo menos algumas das características envolvidas com a cognição no cérebro sofrem influência genética. Quais e em que medida, ainda é um mistério a ser esclarecido.

terça-feira, 24 de março de 2009

O que você sonhou hoje?


Pesquisa mostra que sonhar pode ser muito mais útil que prever qual será o próximo jogo da Mega Sena.

Por Luana Ferreira




Luana Ferreira

O aluno Ronkaly, de Iniciação Científica, simula o experimento.
O Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra acaba de lançar uma ponte entre as pouco comunicáveis neurociências e a psicanálise. Estudando a relação entre sonho, aprendizado e memória, o pesquisador André Pantoja tem encontrado fortes indícios científicos de que muitos dos pensamentos que Sigmund Freud formulou no final do século 19 não só estão corretos, como podem ser usados para melhorar a vida das pessoas. 


Não é pouca coisa. Até agora, a maioria dos neurocientistas considera o sonho uma atividade cortical aleatória, provocada pela descarga difusa e não coordenada de vários neurônios, sem qualquer função. 


Mesmo o sono era considerado apenas um descanso para o corpo até bem pouco tempo. Influenciadas por essa idéia e pelas promessas de lucro e produtividade do capitalismo, as pessoas associaram sono à perda de tempo e começaram a dormir cada vez menos. O sonho foi esquecido. "Então, o índice de doenças como depressão e os transtornos da ansiedade, que tinham como causa a privação de sono, aumentaram", conta Pantoja. 


A importância do sono para o bom funcionamento cerebral hoje está bem estabelecida, mas pouco se sabe ainda sobre a influência do sonho sobre essas funções. As pesquisas ainda são parcas e inconsistentes, já que muitas vezes dependem apenas do relato de voluntários. 
Pantoja fez algo diferente. Ele usou um laboratório do sono para comparar o que acontece no cérebro das pessoas quando elas executam uma tarefa e quando repetem essa tarefa depois de dormir. E encontrou relação entre o conteúdo do sonho (onírico) e o desempenho dessas pessoas. 


Com a ajuda dos alunos de iniciação científica Dayara, Luciana e Ronkaly, todos da UFRN, Pantoja mapeou o traçado eletroencefalográfico de 22 sujeitos que dormiram no laboratório do sono com a cabeça repleta de eletrodos por duas noites. Na segunda noite, antes e depois de dormir, eles se divertiram no computador com o Doom, um jogo simples que envolve perseguição, mortes, monstros e labirintos. 


Antes, porém, a equipe fazia uma lista com tudo o que a pessoa havia feito durante o dia. As impressões sobre o jogo e o ambiente - um quarto climatizado com uma confortável cama de casal, um computador e um quadro com um navio pendurado na parede - também foram quantificadas. Elas eram filmadas enquanto jogavam, para análise do desempenho motor, e enquanto dormiam, por uma câmera infra-vermelha. 


Para aumentar a probabilidade de lembrança do sonho, Pantoja despertava os sujeitos minutos antes do horário habitual, coincidindo com último ciclo do sono REM (Movimento Rápido dos Olhos, em inglês), aquele em que acontecem os sonhos mais complexos, e fazia sempre a mesma pergunta: "O que está passando pela sua mente?" 


Vinte dos 22 sujeitos relataram sonhos quando foram acordados e 18 destes sonharam com elementos do jogo. Com isso, o pesquisador já respondia a duas perguntas importantes e ainda não esclarecidas: "As pessoas sonham todas as noites? e "esses sonhos têm a ver com o que fez durante o dia?". A resposta para as duas é: provavelmente, sim. 


Mas o que animou o grupo do Instituto foi a resposta da terceira pergunta: "Os sonhos são aleatórios?". De maneira inédita, na ciência mundial, Pantoja conseguiu não apenas estabelecer correlação entre o conteúdo do sonho e o desempenho, mas construir uma curva de aprendizagem, em que a quantidade do sonho se relaciona ponto a ponto com o desempenho até começar a cair, sugerindo que uma "overdose" de sonho também pode ser prejudicial para a aprendizagem. 


O achado é tão novo e surpreendente que a equipe pretende submetê-lo a uma das revistas científicas mais importantes do mundo, que Pantoja prefere não revelar. Caso seja aceito, será a primeira vez que uma pesquisa feita no Rio Grande do Norte aparecerá em um catálogo mundial das grandes descobertas. Bingo. 


Mas Pantoja vai além. Ele acredita que, se as pessoas prestarem mais atenção aos seus sonhos, poderão perceber "conselhos" que as ajudarão a viver melhor. Não se trata de relacionar perda de dinheiro com dente caído, por exemplo, mas entender as soluções (ou insights) que apenas em estado de inconsciência um cérebro pode chegar. "No sonho, você não vai achar a chave de todos os mistérios, mas do seu mistério", explica. 


Para isso, o neurocientista defende que cada pessoa mantenha um sonhário - ou diário dos sonhos, e registre o que se passou em suas mentes enquanto dormia. Com o treino, lembrar dos sonhos se tornaria algo espontâneo. O próximo passo seria aprender a interpretar o conteúdo dos sonhos, usando-os em seu benefício, e mais: conseguir interferir no seu enredo, através do sonho lúcido (aquele em que a pessoa está semi-inconscicente), cujo estudo vem sendo comandado por outro cientista do Intituto, Sérgio Rolim. "Você, cineasta do sonho. Ninguém mais vai querer ficar acordado", brinca Pantoja. 


Pode parecer estranho ouvir um neurocientista falar tão à vontade sobre teorias que até agora estão afastadas do rigor científico das ciências naturais. Pantoja faz parte do grupo de neuropsicanálise de Sidarta Ribeiro, que procura diminuir a distância entre as ciências da alma e do corpo, separadas pela ciência ocidental há quase cinco séculos. Com sua descoberta, o conhecimento humano dá um passo à frente.

Nicolelis: “O Brasil precisa de um Programa de Aceleração do Crescimento Humano"


Por Karla Larissa




Vlademir Alexandre
Nicolelis: "Eu acredito que o maior investimento que o Brasil precisa fazer é na formação de gente"
O neurocientista Miguel Nicolelis, que irá participar da próxima Sabatina Nominuto.com, na quarta-feira (18), às 19h, no auditório da Casa da Indústria, concedeu entrevista ao portal recentemente. Na entrevista, publicada no dia 5 de janeiro, Nicolelis fala sobre o trabalho no Instituto Internacional de Neurociências de Natal e os impactos econômicos no Estado; comenta sobre as pesquisas com neuropróteses, que desenvolve na Universidade de Duke; dá sua opinião sobre o governo Lula e sobre a possibilidade de ganhar o prêmio Nobel.


Confira a entrevista na íntegra:


Nicolelis: “O Brasil precisa de um Programa de Aceleração do Crescimento Humano"
Cientista considera que mais importante do que qualquer porto ou rodovia, o país precisa formar gente, pessoas que queiram transformar o Brasil.


Miguel Angelo Laporta Nicolelis, 46 anos, é responsável por uma das mais importantes descobertas da ciência recente, que pode ser a esperança de pessoas com deficiência física ou que sofrem de doenças degenerativas: um sistema que possibilita a criação de próteses controladas por sinais cerebrais. Apontado pela “Scientific American”, como um dos 50 principais líderes da ciência do mundo, ele se considera apenas um cientista que acredita que a ciência tem um papel transformador.


Filho da escritora infanto-juvenil, Giselda Laporta Nicolelis, com quem deve ter aprendido a sonhar, ele tem permitido hoje que cerca de mil crianças possam fazer o mesmo, a partir do projeto do Instituto Internacional de Neurociência de Natal, que, além disso, tem tornado a cidade pólo de referência nas pesquisas em biotecnologia.


Nicolelis recebeu a equipe do Nominuto.com, no final do expediente de sexta-feira (4), no Centro de Estudos e Pesquisa Prof. Cesar Timo-Iaria – IINN-ELS. Na entrevista, em determinado tempo interrompida por uma editora do The New York Times, que buscava informações sobre um experimento feito pelo cientista e que será divulgado só no próximo dia 15. O cientista falou sobre ciência, política, economia e até futebol. 


Ele revelou sua preocupação pelo fato de o país não ter uma visão estratégica de desenvolvimento e disse que, na verdade o Brasil precisa de um “PAC Humano”. Elogiou o Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação e divulgou um projeto, que pretende implantar no Rio Grande do Norte, o qual consiste em construir escolas, ao lado de maternidades, para que toda criança possa ter um acompanhamento desde a gestação até o final do ensino médio. Com isso, ele acredita que o Estado poderá sair do último lugar no sistema educacional brasileiro para disputar com os melhores centros educacionais do país. 


Nominuto.com- O senhor está na lista dos 100 cientistas brasileiros mais influentes, publicada, recentemente, pela revista Época, só que na categoria benfeitor. O senhor se considera um benfeitor? 


MIguel Nicolelis - Não, eu sou e sempre fui um cientista. Eu não sabia dessa lista da Época, descobri agora, quando cheguei aqui. O que eu faço é tentar trazer a ciência para outra esfera, que além da ciência feita em laboratório, que eu faço também. Uma ciência que pode trazer um benefício mais amplo para a sociedade, como no caso do nosso projeto, para crianças e mães. A ciência tem um papel transformador muito grande e esse tipo de trabalho é importante também para mostrar o potencial dela como agente transformador.


NM- O senhor também já foi indicado como um dos 50 líderes mundiais da ciência pela revista “Scientific American” e preferiu utilizar essa influência para tornar realidade o sonho do Instituto Internacional de Neurociência de Natal, o primeiro dos 12 pólos científicos que o senhor pretende criar. Por que Natal? Quais as transformações que o senhor acredita que o IINN pode trazer para a cidade? 


MN- A escolha foi para demonstrar a possibilidade de se construir um projeto desse porte fora do eixo Rio-São Paulo, do Sudeste, e demonstrar a potencilidade da região Nordeste para produzir ciência de alto nível e ciência que pode trazer transformação. E a escolha de Natal, que é uma cidade de médio porte, com uma estrutura estabelecida, uma Universidade Federal, a idéia é que poderíamos criar um projeto dessa envergadura. Nós já estamos investindo R$ 80 milhões, provavelmente um dos maiores projetos do Nordeste, se não for um dos maiores do Brasil, e demonstrar que ele pode ter um impacto, tanto científico, mas também social e econômico. O científico nós já começamos, já estamos com trabalho pelo mundo afora, o social, nós já temos mil crianças sendo educadas. Educação científica, que é um dos maiores projetos do Brasil, se não for o maior. E o econômico é o próximo passo. Nós vamos criar um Parque Tecnológico aqui do lado do projeto, que permita que as idéias dos cientistas e toda essa comunidade que nós trouxemos para cá possam trazer retornos econômicos para o Estado.


NM- Que tipo de retorno econômico esse projeto pode trazer para Natal? 


MN- Se, de repente, Natal se transforma no pólo de referência mundial de neurotecnologia, várias empresas vão querer se localizar aqui, próximo ao Instituto. Elas vão empregar pessoas e pagar impostos, e essa arrecadação vai ser toda em benefício do Estado. A idéia é transformar o Estado, no futuro, em um arrecadador de divisas da indústria do conhecimento. E não só basear a economia em matérias-primas, frutas, camarão ou turismo, desse tipo que só chega no hotel e vai embora. Nós queremos agregar um valor às atividades econômicas, muito maior e de penetração no mercado mundial de biotecnologia, de uma forma concreta.


NM- A Zona de Processamento de Exportações (ZPE), especializada em produtos de tecnologia e biotecnologia, no aeroporto de São Gonçalo do Amarante, será importante para isso?


MN- Nós propusemos ao Governo do Estado uma parceria, para o Instituto fazer o desenho desse Parque Tecnológico, dentro dessa ZPE. Estamos esperando resposta para a gente ser o agente, fazer o desenho, essa arquitetura do que poderia ser feito dentro da Zona de Processamento e como a biotecnologia pode ser um componente tornar fundamental. E o curioso é que essa Zona é em Macaíba.


NM- Eles estão querendo transferi-la para São Gonçalo, em função do aeroporto.... mas que seria para biotecnologia.


MN- Essa foi a sugestão que a gente deu, não a transferência. Biotecnologia e basicamente tecnologia biomédica. Ter a ciência como foco. Mas, ainda assim, será fundamental. 


NM- O IINN já atraiu a atenção do ministro da Educação Fernando Haddad e agora do governador da Bahia Jacquies Wagner. Os dois anunciaram pque retendem criar projetos semelhantes. O senhor acha que o caminho do desenvolvimento da ciência é este? Que outras ações o senhor acredita que cabem aos governos fazerem?


MN- Eu acho que a primeira coisa que os governantes, os políticos brasileiros precisam é começarem ter uma visão estratégica do país. O problema nosso é que dado nossa história e toda nossa tradição cultural e econômica, pensa-se muito só no dia a dia, nos pequenos embates políticos do dia-a-dia e não se define uma visão estratégica de país. Eu acho que a ciência, o investimento científico e principalmente em educação científica, ele se insere na visão estratégica do que a gente quer fazer do Brasil e, em especial, do Nordeste. Eu acho que o Nordeste tem todas as condições de sediar o gérmens da indústria do conhecimento brasileiro. Nós já temos o Porto Digital, em Recife, o desenvolvimento pólo digital da universidade de Campina Grande, na Paraíba. Mas, o que eu acho é que essas atividades podem se multiplicar muito rapidamente, e o Instituto é um exemplo disso. Isso aqui foi feito com uma equipe minúscula. A arrecadação desses recursos, que são, na maioria, privados, foi feita com o exercícito de um. Ou seja, se nós tivéssemos comprometimento dos governos dos estados da região e um alinhamento com o governo federal, além de uma visão estratégica, que fosse superior a um mandato político, o Brasil tinha a chance de deslanchar. Essa é uma evolução difícil de acontecer rapidamente porque todo mundo quer tudo para ontem e o Brasil ainda não tem uma visão estratégica. 


NM- O governo do RN anunciou para 2008 a construção da Cidade da Ciência, com estrutura de planetário, observatório, terraço astronômico, laboratórios, memorial, auditório e centro de convivência. O senhor aprova projetos como este?


MN- Eu não tenho o mínimo conhecimento de um projeto como esse. Ouvi pela imprensa, mas, eu nunca fui consultado. E acho até estranho porque essa não é uma Cidade da Ciência, é uma estrutura muito pequena, um investimento pequeno de cerca de R$ 5 milhões ou R$ 6 milhões. Nós temos uma verdadeira Cidade da Ciência, que se não formos fazê-la no Rio Grande do Norte, faremos em outro estado. Mas, como não conheço esse projeto, é até difícil comentar.


NM- Por falar em governo, o senhor tocou nessa questão de que o Brasil não tem uma visão estratégica. Como o senhor avalia o governo Lula, principalmente, para área da ciência? 


MN- Eu acho que tem havido avanços muito importantes. Particularmente, o Ministério da Educação tem uma visão muito progressista, avança. O Plano de Desenvolvimento da Educação é uma grande mudança, eu espero que ele seja levado a termo, como o ministro Fernando Haddad planeja, porque eu li o projeto inteiro. Eu acredito que o maior investimento estratégico que o Brasil precisa fazer é na formação de gente. Nós precisamos de um grande PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) Humano. Acho que esse é o primeiro, mais importante do que qualquer porto ou rodovia. Nós precisamos formar gente, pensadores críticos; nós precisamos educar pessoas que queiram transformar o Brasil, para serem líderes do país que a gente quer construir e não para serem passivos. 


O nosso sistema educacional educa as pessoas a decorar e responder o que o professor quer ouvir, não educa para desafiarem o paradigma, o dogma, o poder constituído. Nós precisamos de sonhadores, um exército de milhões de crianças que queiram um país diferente, porque do jeito que está, não tem como ir. Precisa de mudanças estruturais fundamentais, mas precisa apostar nos jovens, naqueles que nem nasceram. Eu sempre falo isso. E a educação de alta qualidade para todas as crianças do Brasil, em busca de talento, incentivo ao trabalho criativo, ao trabalho que revoluciona, em qualquer área. É essa que tem que ser a nossa meta. Desafiar todos os tabus, os pensamentos coorporativos, e estimular o talento. Essas mil crianças que estamos estimulando. Muito poucas pessoas acreditariam na Cidade da Esperança e,em Macaíba, em uma das piores escolas do país, conseguimos encontrar talento, porque só precisa mostrar que elas são amadas, estimulá-las e mostrar que a escola não é um lugar que você vai passar quatro horas e ficar absolutamente desesperado para sair de lá. A escola tem que ser o lugar onde você quer estar o tempo inteiro.


NM- Agora, vamos às suas pesquisas. As pessoas não entendem muito bem como funciona o Instituto. Tem uma participação da Universidade? Como a sociedade participa?


MN- Nós temos um grande convênio com a Universidade Federal, mas, aqui não é a Universidade. No mundo inteiro, pesquisa não se faz só na Universidade. O Brasil é um dos poucos países do mundo em que as pessoas ficam assustadas quando ouvem que a pesquisa pode ser feita fora da Universidade, mas ela pode ser feita em colaboração. Então, nós temos uma colaboração. Os pesquisadores que nós temos são da Associação Alberto Santos Dumont para apoio à Pesquisa (AASDAP), que trabalham no Instituto de Neurociência. Nós temos estudantes que são da Universidade Federal, bolsistas do CNPq, que têm bolsa, mas que fazem pesquisa aqui. Porém, essa é uma entidade eminentemente privada, sem fins lucrativos, que tem uma parceria com a Universidade para construir uma infra-estrutura de pesquisa, onde, evidentemente, os pesquisadores da UFRN são muito bem-vindos. A população tem acesso via escolas, via nossa clínica materno infantil, que vai abrir no final de fevereiro, e também nós vamos ter escola regular de tempo integral, que espero começar com cerca de mil crianças (ela vai ter um total de cinco mil). Essa escola já tem recursos garantidos pelo Ministério da Educação, no valor de R$ 42 milhões, que prevê a construção em 22 meses. Nós vamos começar e, espero que no final de 2009 ela possa estar funcionando. 


Mas, eu também tenho uma vontade muito grande, e vou atrás de apoio para construir uma maternidade, porque aqui em Natal as mulheres não têm onde dar a luz por falta de leitos de maternidade. Então, o que eu quero é que a clínica acompanhe essas mães durante a gestação, que elas tenham a maternidade onde possam dar a luz e, naquele momento, aquelas crianças serão matriculadas na nossa escola regular. Ter uma bolsa para todas elas, estudo garantido, se passarem de ano, até o final do Ensino Médio. A nossa idéia é criar estruturas como esta por todo o Estado, se nós tivermos, evidentemente, o apoio do poder público porque sozinho não dá para resolver o problema do País inteiro. Mas, é um projeto que tem condições de tirar o Rio Grande do Norte do último lugar no sistema educacional brasileiro, para disputar com os melhores centros educacionais do país. 


NM- O senhor é responsável pela descoberta de um sistema que possibilita controlar neuropróteses por meio de sinais cerebrais, o que é a esperança para pessoas que sofrem de deficiências físicas e doenças degenerativas. Como estão essas pesquisas? Elas já têm tido bons resultados com primatas? E quais as chances de funcionar com seres humanos?


MN- Estou muito otimista porque os últimos estudos nossos mostram bons resultados. Nós já temos, lá nos Estados Unidos, preliminares com 28 pacientes que nós não publicamos ainda, mas, a análise está revelando uma perspectiva muito boa. Nós firmamos uma parceria com a minha Universidade, de Duke, com o hospital Sírio Libanês, em São Paulo, e nós queremos agora, no final de 2008 e início de 2009, trazer os primeiros estudos em comparação com adultos. Nós já tivemos neurocirurgiões americanos que vieram paro o Sírio e neurocirurgiões brasileiros que passaram um dias em Duke, vendo as cirurgias. E nós já temos uma equipe que vai estudar esse projeto clínico no final de 2008. A minha esperança é que o primeiro ser humano a ser beneficiado com essa tecnologia seja um brasileiro. 


NM- O senhor é um dos brasileiros mais cotados para ganhar o prêmio Nobel, mas já disse algumas vezes não se importar com isso. Qual seria o Nobel para você?


MN- Para mim, pessoalmente, seria ver essa rede de institutos funcionando no Brasil e um milhão de crianças participando dessa experiência educacional. Ver o Brasil finalmente encontrar o seu destino e ser o país que a gente sempre sonhou. E se eu puder, de alguma maneira, participar disso, não há prêmio Nobel que pague. 


NM- Agora, vamos encerrar falando sobre uma das suas maiores paixões. O que o senhor está achando do futebol brasileiro? O que achou dos escândalos que envolveram o Corinthians, no ano passado? E, com Luxemburgo, o Palmeiras volta a ganhar um título, finalmente?


MN- O futebol é uma paixão de todos nós, mas ele é muito mal regido; o lado negro do futebol brasileiro é muito triste. Mas, isso não quer dizer que eu não tenha ficado absolutamente satisfeito, pois vou poder assistir ABC e Corinthians aqui, ou América/RN e Corinthians. Todos os corinthianos da AASDAP vão receber tickets grátis, lá em São Paulo, para vir assistir o jogo aqui porque vai ser um grande clássico. Eu espero estar presente, torcendo para o ABC, apesar de meu time, aqui, ser o Alecrim. E o Palmeiras, é esse ano.