terça-feira, 24 de março de 2009

O que você sonhou hoje?


Pesquisa mostra que sonhar pode ser muito mais útil que prever qual será o próximo jogo da Mega Sena.

Por Luana Ferreira




Luana Ferreira

O aluno Ronkaly, de Iniciação Científica, simula o experimento.
O Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra acaba de lançar uma ponte entre as pouco comunicáveis neurociências e a psicanálise. Estudando a relação entre sonho, aprendizado e memória, o pesquisador André Pantoja tem encontrado fortes indícios científicos de que muitos dos pensamentos que Sigmund Freud formulou no final do século 19 não só estão corretos, como podem ser usados para melhorar a vida das pessoas. 


Não é pouca coisa. Até agora, a maioria dos neurocientistas considera o sonho uma atividade cortical aleatória, provocada pela descarga difusa e não coordenada de vários neurônios, sem qualquer função. 


Mesmo o sono era considerado apenas um descanso para o corpo até bem pouco tempo. Influenciadas por essa idéia e pelas promessas de lucro e produtividade do capitalismo, as pessoas associaram sono à perda de tempo e começaram a dormir cada vez menos. O sonho foi esquecido. "Então, o índice de doenças como depressão e os transtornos da ansiedade, que tinham como causa a privação de sono, aumentaram", conta Pantoja. 


A importância do sono para o bom funcionamento cerebral hoje está bem estabelecida, mas pouco se sabe ainda sobre a influência do sonho sobre essas funções. As pesquisas ainda são parcas e inconsistentes, já que muitas vezes dependem apenas do relato de voluntários. 
Pantoja fez algo diferente. Ele usou um laboratório do sono para comparar o que acontece no cérebro das pessoas quando elas executam uma tarefa e quando repetem essa tarefa depois de dormir. E encontrou relação entre o conteúdo do sonho (onírico) e o desempenho dessas pessoas. 


Com a ajuda dos alunos de iniciação científica Dayara, Luciana e Ronkaly, todos da UFRN, Pantoja mapeou o traçado eletroencefalográfico de 22 sujeitos que dormiram no laboratório do sono com a cabeça repleta de eletrodos por duas noites. Na segunda noite, antes e depois de dormir, eles se divertiram no computador com o Doom, um jogo simples que envolve perseguição, mortes, monstros e labirintos. 


Antes, porém, a equipe fazia uma lista com tudo o que a pessoa havia feito durante o dia. As impressões sobre o jogo e o ambiente - um quarto climatizado com uma confortável cama de casal, um computador e um quadro com um navio pendurado na parede - também foram quantificadas. Elas eram filmadas enquanto jogavam, para análise do desempenho motor, e enquanto dormiam, por uma câmera infra-vermelha. 


Para aumentar a probabilidade de lembrança do sonho, Pantoja despertava os sujeitos minutos antes do horário habitual, coincidindo com último ciclo do sono REM (Movimento Rápido dos Olhos, em inglês), aquele em que acontecem os sonhos mais complexos, e fazia sempre a mesma pergunta: "O que está passando pela sua mente?" 


Vinte dos 22 sujeitos relataram sonhos quando foram acordados e 18 destes sonharam com elementos do jogo. Com isso, o pesquisador já respondia a duas perguntas importantes e ainda não esclarecidas: "As pessoas sonham todas as noites? e "esses sonhos têm a ver com o que fez durante o dia?". A resposta para as duas é: provavelmente, sim. 


Mas o que animou o grupo do Instituto foi a resposta da terceira pergunta: "Os sonhos são aleatórios?". De maneira inédita, na ciência mundial, Pantoja conseguiu não apenas estabelecer correlação entre o conteúdo do sonho e o desempenho, mas construir uma curva de aprendizagem, em que a quantidade do sonho se relaciona ponto a ponto com o desempenho até começar a cair, sugerindo que uma "overdose" de sonho também pode ser prejudicial para a aprendizagem. 


O achado é tão novo e surpreendente que a equipe pretende submetê-lo a uma das revistas científicas mais importantes do mundo, que Pantoja prefere não revelar. Caso seja aceito, será a primeira vez que uma pesquisa feita no Rio Grande do Norte aparecerá em um catálogo mundial das grandes descobertas. Bingo. 


Mas Pantoja vai além. Ele acredita que, se as pessoas prestarem mais atenção aos seus sonhos, poderão perceber "conselhos" que as ajudarão a viver melhor. Não se trata de relacionar perda de dinheiro com dente caído, por exemplo, mas entender as soluções (ou insights) que apenas em estado de inconsciência um cérebro pode chegar. "No sonho, você não vai achar a chave de todos os mistérios, mas do seu mistério", explica. 


Para isso, o neurocientista defende que cada pessoa mantenha um sonhário - ou diário dos sonhos, e registre o que se passou em suas mentes enquanto dormia. Com o treino, lembrar dos sonhos se tornaria algo espontâneo. O próximo passo seria aprender a interpretar o conteúdo dos sonhos, usando-os em seu benefício, e mais: conseguir interferir no seu enredo, através do sonho lúcido (aquele em que a pessoa está semi-inconscicente), cujo estudo vem sendo comandado por outro cientista do Intituto, Sérgio Rolim. "Você, cineasta do sonho. Ninguém mais vai querer ficar acordado", brinca Pantoja. 


Pode parecer estranho ouvir um neurocientista falar tão à vontade sobre teorias que até agora estão afastadas do rigor científico das ciências naturais. Pantoja faz parte do grupo de neuropsicanálise de Sidarta Ribeiro, que procura diminuir a distância entre as ciências da alma e do corpo, separadas pela ciência ocidental há quase cinco séculos. Com sua descoberta, o conhecimento humano dá um passo à frente.

Nicolelis: “O Brasil precisa de um Programa de Aceleração do Crescimento Humano"


Por Karla Larissa




Vlademir Alexandre
Nicolelis: "Eu acredito que o maior investimento que o Brasil precisa fazer é na formação de gente"
O neurocientista Miguel Nicolelis, que irá participar da próxima Sabatina Nominuto.com, na quarta-feira (18), às 19h, no auditório da Casa da Indústria, concedeu entrevista ao portal recentemente. Na entrevista, publicada no dia 5 de janeiro, Nicolelis fala sobre o trabalho no Instituto Internacional de Neurociências de Natal e os impactos econômicos no Estado; comenta sobre as pesquisas com neuropróteses, que desenvolve na Universidade de Duke; dá sua opinião sobre o governo Lula e sobre a possibilidade de ganhar o prêmio Nobel.


Confira a entrevista na íntegra:


Nicolelis: “O Brasil precisa de um Programa de Aceleração do Crescimento Humano"
Cientista considera que mais importante do que qualquer porto ou rodovia, o país precisa formar gente, pessoas que queiram transformar o Brasil.


Miguel Angelo Laporta Nicolelis, 46 anos, é responsável por uma das mais importantes descobertas da ciência recente, que pode ser a esperança de pessoas com deficiência física ou que sofrem de doenças degenerativas: um sistema que possibilita a criação de próteses controladas por sinais cerebrais. Apontado pela “Scientific American”, como um dos 50 principais líderes da ciência do mundo, ele se considera apenas um cientista que acredita que a ciência tem um papel transformador.


Filho da escritora infanto-juvenil, Giselda Laporta Nicolelis, com quem deve ter aprendido a sonhar, ele tem permitido hoje que cerca de mil crianças possam fazer o mesmo, a partir do projeto do Instituto Internacional de Neurociência de Natal, que, além disso, tem tornado a cidade pólo de referência nas pesquisas em biotecnologia.


Nicolelis recebeu a equipe do Nominuto.com, no final do expediente de sexta-feira (4), no Centro de Estudos e Pesquisa Prof. Cesar Timo-Iaria – IINN-ELS. Na entrevista, em determinado tempo interrompida por uma editora do The New York Times, que buscava informações sobre um experimento feito pelo cientista e que será divulgado só no próximo dia 15. O cientista falou sobre ciência, política, economia e até futebol. 


Ele revelou sua preocupação pelo fato de o país não ter uma visão estratégica de desenvolvimento e disse que, na verdade o Brasil precisa de um “PAC Humano”. Elogiou o Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação e divulgou um projeto, que pretende implantar no Rio Grande do Norte, o qual consiste em construir escolas, ao lado de maternidades, para que toda criança possa ter um acompanhamento desde a gestação até o final do ensino médio. Com isso, ele acredita que o Estado poderá sair do último lugar no sistema educacional brasileiro para disputar com os melhores centros educacionais do país. 


Nominuto.com- O senhor está na lista dos 100 cientistas brasileiros mais influentes, publicada, recentemente, pela revista Época, só que na categoria benfeitor. O senhor se considera um benfeitor? 


MIguel Nicolelis - Não, eu sou e sempre fui um cientista. Eu não sabia dessa lista da Época, descobri agora, quando cheguei aqui. O que eu faço é tentar trazer a ciência para outra esfera, que além da ciência feita em laboratório, que eu faço também. Uma ciência que pode trazer um benefício mais amplo para a sociedade, como no caso do nosso projeto, para crianças e mães. A ciência tem um papel transformador muito grande e esse tipo de trabalho é importante também para mostrar o potencial dela como agente transformador.


NM- O senhor também já foi indicado como um dos 50 líderes mundiais da ciência pela revista “Scientific American” e preferiu utilizar essa influência para tornar realidade o sonho do Instituto Internacional de Neurociência de Natal, o primeiro dos 12 pólos científicos que o senhor pretende criar. Por que Natal? Quais as transformações que o senhor acredita que o IINN pode trazer para a cidade? 


MN- A escolha foi para demonstrar a possibilidade de se construir um projeto desse porte fora do eixo Rio-São Paulo, do Sudeste, e demonstrar a potencilidade da região Nordeste para produzir ciência de alto nível e ciência que pode trazer transformação. E a escolha de Natal, que é uma cidade de médio porte, com uma estrutura estabelecida, uma Universidade Federal, a idéia é que poderíamos criar um projeto dessa envergadura. Nós já estamos investindo R$ 80 milhões, provavelmente um dos maiores projetos do Nordeste, se não for um dos maiores do Brasil, e demonstrar que ele pode ter um impacto, tanto científico, mas também social e econômico. O científico nós já começamos, já estamos com trabalho pelo mundo afora, o social, nós já temos mil crianças sendo educadas. Educação científica, que é um dos maiores projetos do Brasil, se não for o maior. E o econômico é o próximo passo. Nós vamos criar um Parque Tecnológico aqui do lado do projeto, que permita que as idéias dos cientistas e toda essa comunidade que nós trouxemos para cá possam trazer retornos econômicos para o Estado.


NM- Que tipo de retorno econômico esse projeto pode trazer para Natal? 


MN- Se, de repente, Natal se transforma no pólo de referência mundial de neurotecnologia, várias empresas vão querer se localizar aqui, próximo ao Instituto. Elas vão empregar pessoas e pagar impostos, e essa arrecadação vai ser toda em benefício do Estado. A idéia é transformar o Estado, no futuro, em um arrecadador de divisas da indústria do conhecimento. E não só basear a economia em matérias-primas, frutas, camarão ou turismo, desse tipo que só chega no hotel e vai embora. Nós queremos agregar um valor às atividades econômicas, muito maior e de penetração no mercado mundial de biotecnologia, de uma forma concreta.


NM- A Zona de Processamento de Exportações (ZPE), especializada em produtos de tecnologia e biotecnologia, no aeroporto de São Gonçalo do Amarante, será importante para isso?


MN- Nós propusemos ao Governo do Estado uma parceria, para o Instituto fazer o desenho desse Parque Tecnológico, dentro dessa ZPE. Estamos esperando resposta para a gente ser o agente, fazer o desenho, essa arquitetura do que poderia ser feito dentro da Zona de Processamento e como a biotecnologia pode ser um componente tornar fundamental. E o curioso é que essa Zona é em Macaíba.


NM- Eles estão querendo transferi-la para São Gonçalo, em função do aeroporto.... mas que seria para biotecnologia.


MN- Essa foi a sugestão que a gente deu, não a transferência. Biotecnologia e basicamente tecnologia biomédica. Ter a ciência como foco. Mas, ainda assim, será fundamental. 


NM- O IINN já atraiu a atenção do ministro da Educação Fernando Haddad e agora do governador da Bahia Jacquies Wagner. Os dois anunciaram pque retendem criar projetos semelhantes. O senhor acha que o caminho do desenvolvimento da ciência é este? Que outras ações o senhor acredita que cabem aos governos fazerem?


MN- Eu acho que a primeira coisa que os governantes, os políticos brasileiros precisam é começarem ter uma visão estratégica do país. O problema nosso é que dado nossa história e toda nossa tradição cultural e econômica, pensa-se muito só no dia a dia, nos pequenos embates políticos do dia-a-dia e não se define uma visão estratégica de país. Eu acho que a ciência, o investimento científico e principalmente em educação científica, ele se insere na visão estratégica do que a gente quer fazer do Brasil e, em especial, do Nordeste. Eu acho que o Nordeste tem todas as condições de sediar o gérmens da indústria do conhecimento brasileiro. Nós já temos o Porto Digital, em Recife, o desenvolvimento pólo digital da universidade de Campina Grande, na Paraíba. Mas, o que eu acho é que essas atividades podem se multiplicar muito rapidamente, e o Instituto é um exemplo disso. Isso aqui foi feito com uma equipe minúscula. A arrecadação desses recursos, que são, na maioria, privados, foi feita com o exercícito de um. Ou seja, se nós tivéssemos comprometimento dos governos dos estados da região e um alinhamento com o governo federal, além de uma visão estratégica, que fosse superior a um mandato político, o Brasil tinha a chance de deslanchar. Essa é uma evolução difícil de acontecer rapidamente porque todo mundo quer tudo para ontem e o Brasil ainda não tem uma visão estratégica. 


NM- O governo do RN anunciou para 2008 a construção da Cidade da Ciência, com estrutura de planetário, observatório, terraço astronômico, laboratórios, memorial, auditório e centro de convivência. O senhor aprova projetos como este?


MN- Eu não tenho o mínimo conhecimento de um projeto como esse. Ouvi pela imprensa, mas, eu nunca fui consultado. E acho até estranho porque essa não é uma Cidade da Ciência, é uma estrutura muito pequena, um investimento pequeno de cerca de R$ 5 milhões ou R$ 6 milhões. Nós temos uma verdadeira Cidade da Ciência, que se não formos fazê-la no Rio Grande do Norte, faremos em outro estado. Mas, como não conheço esse projeto, é até difícil comentar.


NM- Por falar em governo, o senhor tocou nessa questão de que o Brasil não tem uma visão estratégica. Como o senhor avalia o governo Lula, principalmente, para área da ciência? 


MN- Eu acho que tem havido avanços muito importantes. Particularmente, o Ministério da Educação tem uma visão muito progressista, avança. O Plano de Desenvolvimento da Educação é uma grande mudança, eu espero que ele seja levado a termo, como o ministro Fernando Haddad planeja, porque eu li o projeto inteiro. Eu acredito que o maior investimento estratégico que o Brasil precisa fazer é na formação de gente. Nós precisamos de um grande PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) Humano. Acho que esse é o primeiro, mais importante do que qualquer porto ou rodovia. Nós precisamos formar gente, pensadores críticos; nós precisamos educar pessoas que queiram transformar o Brasil, para serem líderes do país que a gente quer construir e não para serem passivos. 


O nosso sistema educacional educa as pessoas a decorar e responder o que o professor quer ouvir, não educa para desafiarem o paradigma, o dogma, o poder constituído. Nós precisamos de sonhadores, um exército de milhões de crianças que queiram um país diferente, porque do jeito que está, não tem como ir. Precisa de mudanças estruturais fundamentais, mas precisa apostar nos jovens, naqueles que nem nasceram. Eu sempre falo isso. E a educação de alta qualidade para todas as crianças do Brasil, em busca de talento, incentivo ao trabalho criativo, ao trabalho que revoluciona, em qualquer área. É essa que tem que ser a nossa meta. Desafiar todos os tabus, os pensamentos coorporativos, e estimular o talento. Essas mil crianças que estamos estimulando. Muito poucas pessoas acreditariam na Cidade da Esperança e,em Macaíba, em uma das piores escolas do país, conseguimos encontrar talento, porque só precisa mostrar que elas são amadas, estimulá-las e mostrar que a escola não é um lugar que você vai passar quatro horas e ficar absolutamente desesperado para sair de lá. A escola tem que ser o lugar onde você quer estar o tempo inteiro.


NM- Agora, vamos às suas pesquisas. As pessoas não entendem muito bem como funciona o Instituto. Tem uma participação da Universidade? Como a sociedade participa?


MN- Nós temos um grande convênio com a Universidade Federal, mas, aqui não é a Universidade. No mundo inteiro, pesquisa não se faz só na Universidade. O Brasil é um dos poucos países do mundo em que as pessoas ficam assustadas quando ouvem que a pesquisa pode ser feita fora da Universidade, mas ela pode ser feita em colaboração. Então, nós temos uma colaboração. Os pesquisadores que nós temos são da Associação Alberto Santos Dumont para apoio à Pesquisa (AASDAP), que trabalham no Instituto de Neurociência. Nós temos estudantes que são da Universidade Federal, bolsistas do CNPq, que têm bolsa, mas que fazem pesquisa aqui. Porém, essa é uma entidade eminentemente privada, sem fins lucrativos, que tem uma parceria com a Universidade para construir uma infra-estrutura de pesquisa, onde, evidentemente, os pesquisadores da UFRN são muito bem-vindos. A população tem acesso via escolas, via nossa clínica materno infantil, que vai abrir no final de fevereiro, e também nós vamos ter escola regular de tempo integral, que espero começar com cerca de mil crianças (ela vai ter um total de cinco mil). Essa escola já tem recursos garantidos pelo Ministério da Educação, no valor de R$ 42 milhões, que prevê a construção em 22 meses. Nós vamos começar e, espero que no final de 2009 ela possa estar funcionando. 


Mas, eu também tenho uma vontade muito grande, e vou atrás de apoio para construir uma maternidade, porque aqui em Natal as mulheres não têm onde dar a luz por falta de leitos de maternidade. Então, o que eu quero é que a clínica acompanhe essas mães durante a gestação, que elas tenham a maternidade onde possam dar a luz e, naquele momento, aquelas crianças serão matriculadas na nossa escola regular. Ter uma bolsa para todas elas, estudo garantido, se passarem de ano, até o final do Ensino Médio. A nossa idéia é criar estruturas como esta por todo o Estado, se nós tivermos, evidentemente, o apoio do poder público porque sozinho não dá para resolver o problema do País inteiro. Mas, é um projeto que tem condições de tirar o Rio Grande do Norte do último lugar no sistema educacional brasileiro, para disputar com os melhores centros educacionais do país. 


NM- O senhor é responsável pela descoberta de um sistema que possibilita controlar neuropróteses por meio de sinais cerebrais, o que é a esperança para pessoas que sofrem de deficiências físicas e doenças degenerativas. Como estão essas pesquisas? Elas já têm tido bons resultados com primatas? E quais as chances de funcionar com seres humanos?


MN- Estou muito otimista porque os últimos estudos nossos mostram bons resultados. Nós já temos, lá nos Estados Unidos, preliminares com 28 pacientes que nós não publicamos ainda, mas, a análise está revelando uma perspectiva muito boa. Nós firmamos uma parceria com a minha Universidade, de Duke, com o hospital Sírio Libanês, em São Paulo, e nós queremos agora, no final de 2008 e início de 2009, trazer os primeiros estudos em comparação com adultos. Nós já tivemos neurocirurgiões americanos que vieram paro o Sírio e neurocirurgiões brasileiros que passaram um dias em Duke, vendo as cirurgias. E nós já temos uma equipe que vai estudar esse projeto clínico no final de 2008. A minha esperança é que o primeiro ser humano a ser beneficiado com essa tecnologia seja um brasileiro. 


NM- O senhor é um dos brasileiros mais cotados para ganhar o prêmio Nobel, mas já disse algumas vezes não se importar com isso. Qual seria o Nobel para você?


MN- Para mim, pessoalmente, seria ver essa rede de institutos funcionando no Brasil e um milhão de crianças participando dessa experiência educacional. Ver o Brasil finalmente encontrar o seu destino e ser o país que a gente sempre sonhou. E se eu puder, de alguma maneira, participar disso, não há prêmio Nobel que pague. 


NM- Agora, vamos encerrar falando sobre uma das suas maiores paixões. O que o senhor está achando do futebol brasileiro? O que achou dos escândalos que envolveram o Corinthians, no ano passado? E, com Luxemburgo, o Palmeiras volta a ganhar um título, finalmente?


MN- O futebol é uma paixão de todos nós, mas ele é muito mal regido; o lado negro do futebol brasileiro é muito triste. Mas, isso não quer dizer que eu não tenha ficado absolutamente satisfeito, pois vou poder assistir ABC e Corinthians aqui, ou América/RN e Corinthians. Todos os corinthianos da AASDAP vão receber tickets grátis, lá em São Paulo, para vir assistir o jogo aqui porque vai ser um grande clássico. Eu espero estar presente, torcendo para o ABC, apesar de meu time, aqui, ser o Alecrim. E o Palmeiras, é esse ano.

Cientistas identificam áreas do cérebro ligadas à fé religiosa


ciência da fé

Reinaldo José Lopes
A ciência provavelmente não é capaz de provar se Deus existe ou não existe, mas a fé religiosa, pelo visto, é bem real -- ao menos em seus efeitos sobre o cérebro. Pesquisadores americanos estudaram o órgão em ação e conseguiram mapear as regiões cerebrais que entram em atividade quando alguém pensa em Deus, no conteúdo de uma determinada doutrina religiosa ou nas cerimônias ligadas à sua fé.
Foto: David Brunner e Klaas Pruessmann/Divulgação

Imagem de ressonância obtida de cabeça e torso

A pesquisa, coordenada por Jordan Grafman, dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, está na edição desta semana da revista científica "PNAS". A primeira conclusão da equipe é que não existe nenhum "órgão divino" especializado no cérebro. Para processar informações, sensações e emoções ligadas à religião e à crença em Deus, as pessoas utilizam regiões do cérebro que também servem para outras funções do dia-a-dia mental.
Isso vale, por exemplo, para quando os voluntários tinham de imaginar Deus relativamente distante do mundo e das pessoas, sem se envolver com os assuntos terrenos; Deus enraivecido e Deus amoroso. Em todas essas situações, as áreas do cérebro que ficaram ativas, de acordo com exames de ressonância magnética, tinham a ver com a chamada Teoria da Mente. A Teoria da Mente é uma propriedade mental humana que tem a ver com a detecção de emoções e intenções em outras pessoas ou seres. É a capacidade que você usa para imaginar por que um amigo ou um parente ficou bravo com você por algum motivo, por exemplo. Nesse caso, os voluntários estão pensando num agente sobrenatural (Deus) como se ele tivesse uma mente como a de outros seres humanos.
Da mesma forma, áreas cerebrais tipicamente associadas com o raciocínio abstrato, a memória e a fala "acenderam" quando as pessoas tinham de pensar em dogmas de sua religião, enquanto regiões associadas com o processamento sensorial ficavam ativas quando a pessoa tinha de pensar em rituais religiosos. Assim, para o cérebro, decorar informações sobre a Santíssima Trindade não seria muito diferente de aprender uma equação matemática, e assistir a uma missa seria parecido com ir ao teatro, por exemplo.
Os pesquisadores ressaltam que a pesquisa foi feita exclusivamente com cristãos ocidentais. A religiosidade de pessoas de outras partes do mundo pode envolver aspectos cognitivos diferentes.