quinta-feira, 16 de junho de 2005

Hospital Sírio-Libanês firma maior acordo científico-social privado do País

São Paulo, 15 de junho de 2005 – 

Nesta quinta-feira, dia 16, às 11 horas, será anunciado no Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, um acord0 inédito no país, na área científica. O neurocientista brasileiro Dr. Miguel Nicolelis, professor titular de Neurobiologia e Engenharia Biomédica e co-diretor do Centro de Neuroengenharia da Duke University (EUA), firmará, em nome da Associação Alberto Santos Dumont de Apoio à Pesquisa (AASDAP), um acordo científico-social com o Hospital Sírio-Libanês que prevê a realização da primeira cirurgia, em um ser humano, para a movimentação de braços robóticos com o uso do cérebro do paciente.

Com a participação de especialistas do Hospital Sírio-Libanês na equipe cirúrgica, no futuro estimado de três anos este deverá ser o primeiro procedimento, no mundo, de implante de uma neuroprótese (interface cérebro-máquina) para restaurar a mobilidade dos membros superiores de um paciente com paralisia corpórea severa. O paciente usará seus sinais cerebrais para controlar os movimentos de próteses mecânicas.

Com esta parceria, o Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês será inserido numa rede internacional de institutos de neurociência, criada pelo Dr. Nicolelis e com sede em Lausanne, na Suíça. Esta rede será formada pelo Centro de Neuroengenharia da Duke University, o Centro de Neurocomputação da Universidade de Jerusalém, o Instituto Internacional de Neurociências de Natal e o Hospital Sírio-Libanês – o único parceiro clínico da rede.

Com esse acordo, o Hospital Sírio-Libanês se firma como a primeira entidade brasileira não-governamental a contribuir com o Instituto Internacional de Neurociência de Natal, a ser construído no município de Macaíba, no Rio Grande do Norte. O Instituto será formado por cerca de 15 laboratórios de pesquisa em neurociência, uma escola e um centro de saúde mental infanto-juvenil, museu de ciência, um parque ecológico e um complexo esportivo a serem construídos em terrenos cedidos pela Universidade do Rio Grande do Norte e o município de Macaíba. O Hospital Sírio-Libanês doará, nos próximos três anos, 1 milhão de dólares para os projetos sociais do Instituto.

“É um marco na ciência brasileira. Esta é a primeira parceria científico-social de vulto da nossa história, que mostra que a ciência de ponta pode ser um agente transformador social no Brasil”, diz Nicolelis. Segundo o superintendente corporativo do Hospital Sírio-Libanês, Mauricio Ceschin, “este acordo reforça o caráter de centro de excelência da Instituição, voltada às ações de saúde, ensino e pesquisa”.

A coletiva acontece no Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, que fica na rua Cel. Nicolau dos Santos, 69, Bela Vista, às 11 horas do dia 16, quinta-feira.

Sobre o Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês
O Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês concentra, em uma área de 5.800 m2, todos os recursos necessários à realização de suas atividades relacionadas ao Ensino e à Pesquisa. Além disso, a moderna infra-estrutura do IEP está preparada para receber quaisquer tipos de eventos nas áreas de medicina e saúde: desde a sua fundação, organiza cursos de atualização, simpósios e palestras para os profissionais do setor. Foram criados no Instituto um Comitê de Ética em Pesquisa e programas de Residência Médica. O IEP incluiu no calendário anual de eventos as Palestras para a Comunidade – a promoção da saúde e qualidade de vida da população por meio da transmissão de informações sobre temas relevantes. Acesse www.iephsl.org.br para saber mais sobre as diversas atividades do Instituto.

Hospital Sírio-Libanês
O Hospital Sírio-Libanês é um dos mais importantes do Brasil e da América Latina, resultado de uma ação filantrópica consolidada com tecnologia de ponta, profissionais gabaritados, respeito ao paciente e expansão contínua.

São 54 mil metros quadrados, 2.500 funcionários, médicos do mais alto padrão em 60 especialidades, 277 leitos, dois centros cirúrgicos, duas UTIs e capacidade para 50 cirurgias diárias.

A história tem início em 1921, quando foi criada a Sociedade Beneficente de Senhoras pela primeira geração de sírios e libaneses de São Paulo. O objetivo era angariar fundos para erguer um hospital que atendesse a população de todas as classes sociais e estivesse à altura da cidade paulista. Esse sonho começa a se tornar realidade em 1930.

O ano de 1971 foi marcado pela inauguração de um prédio de dez andares, com capacidade para 100 apartamentos, e da primeira UTI no Brasil, com dez leitos. Em 1992, mais um prédio de 40 mil metros quadrados e 20 andares se somou à estrutura do hospital.

A direção do hospital ficou sob a responsabilidade do dr. Daher Cutait até a data do seu falecimento, dia 6 de junho de 2001. É graças ao perfil ético, moral e humanístico do professor Cutait à frente do corpo clínico e de Dona Violeta Jafet, na presidência da Sociedade Beneficente de Senhoras, que o Sírio-Libanês ficou mundialmente conhecido pelo tripé pioneirismo, excelência e humanismo.

As Pesquisas
O neurocientista Miguel Nicolelis é o mentor de uma das maiores descobertas na área neurológica dos últimos anos. Ele é responsável pelo experimento que abriu caminho para a criação de braços robóticos controlados pela “força do pensamento”.

Nicolelis e sua equipe da Duke University (EUA) desenvolveram um sistema que permite que macacos controlem um braço de robô por meio de sinais cerebrais, ou seja, os impulsos do cérebro são transformados em comandos matemáticos que podem ser interpretados por computador, permitindo que os animais comandem os movimentos. Para esta pesquisa, foram implantados eletrodos em regiões do cérebro dos animais associadas aos movimentos.

A atividade das células neurais foi analisada durante as atividades da macaca Aurora ao jogar uma espécie de videogame. Ela controlava um cursor com um joystick e tinha que acertar alvos que apareciam na tela fazendo a melhor trajetória no menor tempo possível. Ao acertar, ganhava um gole de suco de laranja.

O passo seguinte foi retirar o joystick de Aurora. A partir daí, era o braço mecânico, em uma outra sala, que movia o cursor a partir das ordens dadas pelo cérebro dessa macaca rhesus. No começo, ela continuava mexendo o braço no vazio para manipular o cursor. Mas, em um tempo curto, percebeu que o movimento do cursor não dependia disso.

Aurora aprendeu a assimilar o braço robô como se fosse seu próprio braço. Isso mostra que, ao contrário do que se pensava, o cérebro adulto tem uma capacidade de adaptação tão grande que permite incorporar um artefato externo. Segundo Nicolelis, “o tempo todo incorporamos ferramentas como se fossem partes do nosso corpo. A raquete é a extensão do braço do tenista, o piano é a extensão dos dedos do músico.” A mesma técnica poderá ser usada para tratar pacientes que sofreram lesão irreversível na medula espinhal, ou os que sofrem com mal de Parkinson e de Alzheimer. Nicolelis também pensa em desenvolver um exoesqueleto, como se fosse uma segunda pele: “o robô que carrega o paciente".

Este trabalho de Miguel Nicolelis consta da famosa lista elaborada pelo MIT-Instituto de Tecnologia de Massachusetts - sobre as tecnologias que vão mudar o mundo.

Ele também foi indicado como um dos 50 líderes mundiais da ciência pela Scientific American. O reconhecimento é dado há três anos pelos editores da revista de divulgação científica mais importante do mundo, em três áreas: pesquisa, políticas públicas e negócios. Nicolelis foi escolhido um dos 20 líderes de pesquisa.

O Cientista
Miguel Angelo Laporta Nicolelis nasceu na cidade de São Paulo, no dia 07 de março de 1961. Criado no bairro da Bela Vista, estudou no Colégio Bandeirantes, e formou-se em Medicina, em 1984, pela Universidade de São Paulo (USP) e é doutor em Neurofisiologia também pela USP. Nicolelis saiu do Brasil para fazer o pós-doutorado na Hahnemann University, Philadelphia, EUA.

Atualmente dirige o Laboratório de Neurociências da Duke University (EUA), o maior laboratório de neurociências do mundo. Também na Duke University é professor titular de Neurobiologia e Engenharia Biomédica, e co-diretor do Centro de Neuroengenharia.

Nicolelis é uma das mais respeitadas autoridades mundiais em neuropróteses, ou interfaces cérebro-máquina — que podem levar ao desenvolvimento de próteses neurais para reabilitação de pacientes que sofrem de paralisia corporal severa.

Incansável, Nicolelis está sempre trabalhando em algo novo no seu laboratório na Duke University. Recentemente, desenvolveu uma metodologia que grava um “filme” panorâmico do cérebro de ratos, que permitiu descobrir a assinatura de mudanças crucias, como o início do tipo de sono em que ocorrem os sonhos e a fixação de memórias.

Os trabalhos de Miguel Nicolelis são freqüentemente publicados em revistas e jornais científicos de renome mundial como Nature, Scientific American, The Journal Of Neuroscience, entre outros.

Os mais de 10 anos longe do Brasil não apagaram suas paixões pela música brasileira e futebol. Miguel Nicolelis sempre apreciou a boa literatura, gosta de escrever, prefere ouvir óperas e, não importa em que lugar do planeta esteja, ele não perde um jogo do Palmeiras!

A sua paixão pelo país e a crença em suas “utopias” possibilitou a criação do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, que começará a ser construído neste ano de 2005.

Miguel Nicolelis
O brasileiro Nicolelis tem mestrado e doutorado em Neurofisiologia pela Universidade de São Paulo (USP). Fez trabalhos de pós-doutorado na Hahnemann University, nos Estados Unidos. Hoje é co-diretor do Centro de Neuroengenharia e professor de Neurobiologia, Engenharia Biomédica e Ciências Psicológicas e do Cérebro na Duke University.